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Cão Sem Plumas de Deborah Colkerno Teatro Sesc em Palmas

O espetáculo é sobre coisas inconcebíveis, que não deveriam ser permitidas

Francisco Vieira
Por: Francisco Vieira Fonte: Redação
28/06/2023 às 23h00
Cão Sem Plumas de Deborah Colkerno Teatro Sesc em Palmas
Os bailarinos se cobrem de lama, alusão às paisagens que o poema descreve, e seus passos evocam os caranguejos/Foto Divulgação

No espetáculo "Cão Sem Plumas", a dança se mistura com o cinema através da projeção de cenas de um filme realizado por Deborah Colker e pelo diretor pernambucano Cláudio Assis. Cláudio Assis é conhecido por dirigir filmes como "Amarelo Manga", "Febre do Rato" e "Big Jato". As imagens capturadas durante uma viagem de 24 dias entre o limite do sertão e agreste até Recife, em novembro de 2016, são projetadas no fundo do palco e dialogam com os movimentos dos 14 bailarinos. 

A jornada também foi documentada pelo fotógrafo pernambucano Cafi. A trilha sonora original do espetáculo conta com a participação de dois artistas pernambucanos: Jorge Dü Peixe, da banda Nação Zumbi, um dos expoentes do movimento mangue beat, e Lirinha, cantor do Cordel do Fogo Encantado, poeta e ator. Além deles, Berna Ceppas, músico carioca que acompanha Deborah desde o seu trabalho de estreia, "Vulcão" (1994), também contribui para a trilha sonora.  O espetáculo também conta com antigos parceiros de Deborah Colker em sua equipe. Gringo Cardia é responsável pela cenografia e direção de arte, Jorginho de Carvalho pela iluminação, e Claudia Kopke assina os figurinos. A direção executiva é de João Elias, fundador da companhia de dança de Deborah Colker.

No espetáculo "Cão Sem Plumas", os bailarinos se cobrem de lama, fazendo alusão às paisagens descritas no poema e evocando os movimentos dos caranguejos, animais típicos do mangue. Essa referência aos caranguejos está presente nas ideias do geógrafo Josué de Castro, autor de "Geografia da Fome" e "Homens e Caranguejos", e também no trabalho do cantor e compositor Chico Science, figura central do movimento mangue beat. O mangue beat mescla elementos regionais e universais, tradição e tecnologia, assim como Deborah Colker faz em sua obra.  Para construir o conceito de "bicho-homem", que é a base de toda a coreografia, Deborah Colker não se limitou apenas às manifestações culturais fortes em Pernambuco, como o maracatu e o coco.

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Ela também se inspirou em danças populares como o samba, o jongo, o kuduro e outras formas de expressão.  O espetáculo "Cão Sem Plumas" já foi apresentado em mais de 30 cidades brasileiras, alcançando um público de mais de 150 mil pessoas. Além disso, também teve apresentações internacionais nos Estados Unidos, França, Reino Unido, Alemanha e Uruguai. A obra de Deborah Colker tem uma trajetória marcada pela mistura de influências e estilos, refletindo sua história de diversidade cultural. Deborah Colker e sua companhia consolidaram-se como fenômeno pop com os espetáculos "Velox" (1995), "Rota" (1997) e "Casa" (1999).

Nesses trabalhos, a artista explorou elementos de dança contemporânea combinados com uma estética visual impactante. Em seguida, seus espetáculos, como "Nó" (2005), "Cruel" (2008), "Tatyana" (2011) e "Belle" (2014), abordaram temas existenciais, como os afetos e as relações humanas.  Em "Cão Sem Plumas", Deborah Colker reúne aspectos de toda a sua carreira, combinando a elegância do clássico, a profundidade das raízes e uma visão contemporânea.

Ela se inspira no poema de João Cabral de Melo Neto para criar uma obra que dialoga com a realidade brasileira, abordando questões sociais e ambientais.  Além de seu reconhecimento no Brasil, Deborah Colker conquistou reconhecimento internacional. Em 2001, recebeu o Laurence Olivier Award na categoria "Oustanding Achievement in Dance" (realização mais notável em dança no mundo). Em 2009, ela criou um espetáculo para o renomado Cirque du Soleil, intitulado "Ovo". Em 2016, teve a honra de ser a diretora de movimento da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, um evento de grande destaque global. Essas experiências demonstram a versatilidade e o prestígio de Deborah Colker no campo das artes cênicas.

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João Cabral de Melo Neto vivia em Barcelona, onde trabalhava como diplomata, quando teve acesso a uma revista que informava que a expectativa de vida no Recife era menor do que na Índia. Essa notícia foi o estímulo para criar o poema "O Cão Sem Plumas". Em 1953, ele publicou "O Rio ou Relação da Viagem que Faz o Capibaribe de Sua Nascente à Cidade do Recife", e três anos depois, lançou sua obra mais conhecida, "Morte e Vida Severina".

A poesia de João Cabral é considerada uma das mais importantes do Brasil, caracterizada pelo rigor formal e pela rejeição a sentimentalismos. "Cão Sem Plumas", inspirado no poema homônimo de João Cabral de Melo Neto, recebeu um dos mais prestigiosos prêmios da dança mundial, o "Prix Benois de la Danse" em 2018, na categoria coreografia.

Esse reconhecimento reforça a importância e a qualidade artística do trabalho realizado por Deborah Colker em sua adaptação coreográfica do poema.

Da redação

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