Na região de Minas Gerais, a agricultura familiar desempenha um papel fundamental na economia e na alimentação local, com milhares de estabelecimentos responsáveis pela produção de uma grande parte dos alimentos consumidos pelos habitantes. Além disso, a diversificação das culturas é incentivada por meio de pesquisas de campo, como as realizadas por Emerson Gonçalves, que se concentra no estudo das frutas temperadas. Essas frutas têm se destacado na região do Sul de Minas devido ao clima frio, conforme indicam levantamentos do IBGE e da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa).
Atualmente, Gonçalves está envolvido no estudo e cultivo de diversas variedades de frutas de clima temperado, como amora-preta, framboesa, mirtilo, fisalis, pêssego e pera. Essas frutas, introduzidas de outras regiões, requerem temperaturas específicas para frutificar, preferencialmente abaixo de 7ºC.
De acordo com o pesquisador, as pequenas frutas ou frutas vermelhas, como amora-preta, framboesa e mirtilo, são especialmente relevantes devido à sua alta produtividade em áreas reduzidas, além de contribuírem para a geração de empregos nas regiões onde são cultivadas. A produção dessas frutas demanda um trabalho significativo em termos de colheita, poda e cuidados culturais ao longo do ciclo de crescimento das plantas.
O produtor Francisco de Assis é um dos beneficiados pelas pesquisas com frutas temperadas, iniciando seu envolvimento com elas em 2012. Atualmente, ele e dois sócios administram uma grande plantação com 25 mil pés de amora e 25 mil de framboesa. Ele ressalta a importância do mercado de frutas vermelhas, especialmente quando conseguem exportar as frutas in natura, agregando um alto valor. No entanto, destaca os desafios, como a necessidade de dedicação constante devido à rápida maturação das frutas e ao risco de infestações de pragas, informando que toda a produção é supervisionada pelos pesquisadores da Epamig Sul.
As pesquisas com frutas temperadas no Campo Experimental de Maria da Fé tiveram início por volta de 2007, com foco na avaliação de variedades de amora-preta e mirtilo para a região, conhecida por seu clima frio. Atualmente, oito estudos estão em andamento, todos voltados para a adaptação das cultivares às condições climáticas e de solo do Sul de Minas. Para o futuro, novas seleções de mirtilo serão avaliadas para regiões com invernos mais amenos, visando expandir o cultivo para áreas com temperaturas mais altas.
O pesquisador destaca a importância dessas pesquisas para o cultivo de frutas temperadas na região, salientando que muitas variedades não seriam cultivadas no Sul de Minas sem esse trabalho. O desafio futuro é ampliar a produção para regiões com climas mais quentes, buscando expandir o cultivo além das fronteiras atuais.
Um dos projetos em andamento coordenados pelo pesquisador é focado na determinação da temperatura mínima necessária para a produção da amora-preta, o que permitirá avaliar sua viabilidade em regiões mais quentes. Em outras pesquisas, Gonçalves observou que algumas variedades de framboesa e amora-preta demonstraram resistência ao calor e conseguiram frutificar em condições de temperatura elevada, até mesmo dentro de casas de vegetação onde não há frio e as temperaturas podem chegar a 40ºC.
Além disso, os estudos envolvem testes com diferentes fertilizantes e práticas culturais que possam promover o desenvolvimento dessas frutas temperadas em regiões com climas diferentes. No Campo Experimental de Maria da Fé, o trabalho atual concentra-se na avaliação e teste de diversas seleções e variedades de amora, framboesa e pêssego, visando viabilizar o cultivo de novas linhagens. Na região sul de Minas Gerais, a Epamig desempenha um papel central nesses estudos, com muitos deles financiados pela FAPEMIG.
A diversificação das culturas no Sul de Minas, tradicionalmente conhecido pela produção de café, tem desempenhado um papel crucial no desenvolvimento socioeconômico e cultural da região. Além do café, produtores como Francisco de Assis têm se beneficiado da produção de amoras e framboesas, e até mesmo explorado o potencial do ecoturismo em suas propriedades agrícolas. Essa diversificação agrega valor aos produtos, que podem ser vendidos a preços consideráveis, tanto in natura quanto congelados.
Para Gonçalves, as frutas temperadas têm se tornado uma opção cada vez mais atrativa na região. Ele destaca que as pesquisas realizadas incentivam os produtores a buscar alternativas para suas propriedades. O pesquisador também ressalta que essas culturas se adaptam bem à agricultura familiar, que desempenha um papel fundamental na produção de alimentos em Minas Gerais, respondendo por cerca de 80% do consumo do estado, de acordo com dados da Seapa.
É importante ressaltar que a agricultura familiar em Minas Gerais é caracterizada por um manejo quase exclusivamente manual, conforme destacado pela cartilha “Um novo retrato da Agricultura Familiar do Estado de Minas Gerais”, elaborada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) em 2017. Dessa forma, as frutas temperadas, devido à sua natureza delicada, são particularmente adequadas para esse tipo de cultivo. Além de serem comercializadas in natura, as frutas também podem ser vendidas congeladas e transformadas em uma variedade de produtos.
Francisco de Assis, além de vender amoras e framboesas, planeja expandir sua produção e diversificar seus produtos, como geleias e sucos embalados. Ele destaca que as mudas de plantas em sua propriedade são produzidas internamente, o que lhe permite colaborar com outros agricultores da região.
Emerson Gonçalves destaca a importância das pesquisas com frutas pequenas, especialmente para a agricultura familiar, devido à sua facilidade de escoamento e possibilidade de armazenamento por congelamento. Ele ressalta que a demanda por essas frutas em Minas Gerais é alta, principalmente porque a maioria delas é proveniente de outros estados.
De acordo com o pesquisador, as frutas temperadas não têm origem em Minas Gerais e foram introduzidas no estado, principalmente do Sul do Brasil, devido à similaridade de temperatura. Os trabalhos iniciados em Maria da Fé resultaram em um amplo comércio regional dessas frutas, enquanto os pesquisadores continuam explorando novas técnicas de manejo e desenvolvendo novos produtos a partir delas.
As frutas vermelhas não apenas são saborosas, mas também oferecem benefícios significativos para a saúde. De acordo com Emerson Gonçalves, essas frutas desempenham um papel importante na prevenção de diversas doenças, incluindo diabetes, problemas cardiovasculares, arteriosclerose, infecções e certos tipos de câncer, além de auxiliarem na regulação hormonal. Isso se deve ao fato de serem ricas em vitamina C e antioxidantes, o que confere a elas propriedades nutracêuticas, ou seja, nutrientes que agem diretamente em benefício do organismo.
O mirtilo, por exemplo, é conhecido por suas substâncias que promovem a saúde ocular, enquanto o fisalis contribui para a redução do colesterol. Essas frutas escuras, em particular, contêm altos níveis de antocianina, um antioxidante também encontrado no vinho tinto, que desempenha um papel crucial na proteção contra inflamações, degeneração de neurônios, lesões hepáticas e colite. Segundo o pesquisador, quanto mais escura a fruta, maior a concentração de antocianina, o que a torna benéfica para diversos aspectos da saúde humana.
Da redação Ponto BH l Com informação Agência Minas