Comunidades indígenas em Mato Grosso consideram não realizar o plantio de uma área de 13 mil hectares de soja nesta safra. Os fatores que desestimulam essa produção incluem os elevados custos envolvidos no processo e a queda no valor de mercado do grão, que tem reduzido a viabilidade econômica para esses produtores nesta temporada.
Comunidades indígenas na região oeste de Mato Grosso estão planejando diminuir significativamente a área destinada ao cultivo de soja nesta safra, com expectativa de reduzir para menos da metade o plantio em comparação a temporadas anteriores. Entre as razões estão os elevados custos para manter a produção, a queda no valor do grão no mercado e a necessidade de seguir restrições que exigem o uso de variedades convencionais, fatores que juntos têm tornado o cultivo menos atrativo e financeiramente viável para esses produtores.
Há quase vinte anos, as terras indígenas em Campo Novo do Parecis, habitadas pelos povos Pareci, Nambikwara e Manoki, adotaram a prática da agricultura em larga escala. Desde então, essas comunidades cultivam aproximadamente 20 mil hectares, dedicados principalmente ao plantio de soja, milho, feijão e outros grãos. Segundo os próprios indígenas, essa iniciativa trouxe melhorias significativas para a qualidade de vida nas aldeias envolvidas, proporcionando benefícios econômicos e sociais gerados pela atividade agrícola.
Arnaldo Zunizakae, presidente da Coopihanama, destaca que a agricultura nas terras indígenas vai além do aspecto econômico, sendo uma atividade que agrega valor à vida nas comunidades. Ele afirma que a terra, demarcada para garantir a subsistência e o desenvolvimento dos povos indígenas, precisa hoje abranger mais do que caça e pesca, refletindo as mudanças dos tempos e a necessidade de gerar renda e oportunidades de crescimento. Segundo Zunizakae, a agricultura é uma das alternativas que possibilitam esse desenvolvimento econômico, mantendo as comunidades ativas e sustentáveis.
Arnaldo Zunizakae, presidente da Coopihanama, enfatiza que o cultivo agrícola nas terras indígenas demonstra a viabilidade de uma produção responsável e bem orientada. Ele expressa gratidão aos produtores rurais que compartilharam conhecimento e técnicas, permitindo que a cooperativa se tornasse uma produtora rural ativa. Segundo Zunizakae, esse aprendizado foi essencial para que as terras fossem preparadas e manejadas de forma a sustentar as atividades agrícolas que hoje fortalecem a comunidade.
O cacique Ronaldo Zokezomaiake destaca que a introdução da agricultura foi um movimento de resistência e sobrevivência, essencial para evitar a decadência e assegurar um futuro autossustentável para sua comunidade. Ele observa que o projeto agrícola estabelecido não só contribui para a subsistência local, mas também se tornou um exemplo para outros povos indígenas do Brasil, inspirando diversas comunidades. Segundo Zokezomaiake, líderes indígenas de diferentes regiões, incluindo o Sul do país, já visitaram a área para conhecer o trabalho. Ele menciona que a mecanização agrícola já chegou a lugares como Roraima e Maranhão, mostrando que a busca por conhecimento tem possibilitado a autonomia e independência econômica através da produção agrícola.
Arnaldo Zunizakae aponta que a demora no processo de licenciamento ambiental, somada aos desafios para acessar crédito, condições climáticas desfavoráveis e a baixa valorização da soja, está impactando negativamente o cultivo no território indígena. Além disso, a exigência de cultivar sementes convencionais, sem o uso de variedades geneticamente modificadas, também limita a produtividade. Esses fatores combinados podem resultar em uma diminuição significativa da área plantada com soja nesta temporada, afetando tanto a renda quanto a sustentabilidade econômica da comunidade.
Arnaldo Zunizakae explica que, devido ao aumento dos custos e à baixa valorização da soja, a comunidade indígena reduzirá a área plantada de 20 mil para cerca de sete mil hectares nesta safra. O custo de produção é elevado, chegando a 40 sacas de soja por hectare, enquanto o uso de sementes geneticamente modificadas poderia reduzir significativamente esses gastos, facilitando o controle de ervas daninhas e doenças com menos insumos.
Apesar de as terras indígenas somarem mais de 1,1 milhão de hectares, menos de 2% são destinados à agricultura, empregando diretamente quase 300 pessoas, a maioria indígena. Desde 2013, a Coopihanama busca regularizar o licenciamento ambiental pelo Ibama, mas o processo enfrenta constantes atrasos, prejudicando o acesso ao crédito e a viabilidade econômica do projeto. Esses entraves burocráticos permanecem como um obstáculo crítico para a expansão sustentável da agricultura na região.
O presidente da Coopihanama, Arnaldo Zunizakae, relatou que, embora tenham conseguido inscrição no Plano Safra de 2024, um problema burocrático impediu o recebimento dos recursos. O projeto de R$150 milhões, destinado ao custeio da produção, foi travado pela ausência de uma autorização para penhor de safra. A Funai, responsável pela nomeação de um servidor para assinar o documento, ainda não emitiu a portaria necessária, deixando o recurso parado em Brasília. Sem o crédito público, a cooperativa conclui o plantio com empréstimos a juros altos.
Ronaldo Zokezomaiake destacou a necessidade de maior conscientização das autoridades para que os produtores indígenas possam competir em igualdade no mercado. Para Arnaldo, a agricultura indígena deve ser encarada com mais seriedade, considerando os desafios e potencial do setor.
Da redação Ponto Notícias l Com informação Pedro Silvestre e Viviane Petroli
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