A moeda americana alcançou sua maior cotação desde o início do Plano Real, marcando um momento histórico no mercado cambial. Esse registro reflete desafios econômicos enfrentados pelo Brasil, incluindo questões fiscais e dificuldades no cenário financeiro. O impacto da alta do dólar repercute em diversos setores, agravando o custo de importação e gerando preocupação entre investidores e consumidores.
A moeda americana registrou um aumento expressivo nesta quarta-feira (27), encerrando o dia com uma cotação superior a R$ 5,91, a maior já registrada em valores nominais no período do Plano Real. Especialistas do mercado financeiro indicaram que a valorização do dólar foi impulsionada pelo anúncio recente do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre a isenção do Imposto de Renda para trabalhadores com rendimentos monetários de até R$ 5 mil. Essa decisão gerou dúvidas sobre o impacto fiscal, influenciando níveis de confiança não reais.
A moeda americana atingiu níveis registrados após o anúncio de autorização do IR, levantando dúvidas sobre o comprometimento do governo com cortes de gastos e equilíbrio fiscal.
Nas últimas semanas, o mercado vinha demonstrando apreensão com os constantes atrasos na apresentação do plano fiscal, originalmente previsto para ser divulgado logo após as eleições municipais. A recente decisão de implementar uma medida que implica renúncia de receitas agravou ainda mais as preocupações dos investidores. A percepção é de que o governo Lula enfrentou dificuldades para indicar um compromisso sólido com ajustes estruturais nos gastos públicos. Essas configurações seriam essenciais não apenas para cumprir as metas condicionais pelo novo arcabouço fiscal, mas também para sinalizar um caminho de estabilidade na relação entre a dívida pública e o PIB no longo prazo.
A economista-chefe da Buysidebrazil, Andréa Damico, destacou que o anúncio da isenção do Imposto de Renda, feito quase simultaneamente ao pacote econômico, comprometeu a recepção das medidas. Segundo ela, embora os dois textos sejam distintos, a particularidade de ambos é o impacto positivo do pacote, que já enfrentou críticas pela demora na apresentação. Damico também observou que, enquanto o dólar subia no Brasil, a moeda americana apresentava queda no mercado internacional, especialmente em comparação com outras moedas fortes.
As novas medidas de contenção fiscal serão divulgadas oficialmente nesta quinta-feira (28). Entre as propostas, estão mudanças nas normas para concessão do Benefício de Prestação Continuada (BPC) e do abono salarial, além de ajustes na política de aumento salarial do mínimo e nas regras de aposentadoria e pensão para militares. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também confirmou que o pacote incluirá alterações no programa Vale Gás e restrições aos chamados “supersalários”. Essas iniciativas visam conter despesas e alinhar o orçamento público às metas econômicas propostas.
O dólar apresentou forte alta já nas negociações iniciais desta quarta-feira, intensificada após o anúncio de que o ministro Fernando Haddad abordaria a autorização do Imposto de Renda. A moeda rompeu o marco de R$ 5,90, atingindo um pico de R$ 5,9289 por volta das 16h. Ao encerrar o dia, registrou valorização de 1,81%, sendo negociado a R$ 5,9135, o maior valor nominal de fechamento desde a criação do real, superando o registro anterior de R$ 5,9008, alcançado em 13 de maio de 2020. Durante operações intradiárias, o maior valor histórico permanece os R$ 5,9718, atingidos em 14 de maio de 2020.
A proposta de isenção do Imposto de Renda foi criticada por economistas como Cristiane Quartaroli, do Ouribank, que destacou o impacto negativo da medida. Segundo ela, a decisão contradiz as expectativas de anúncios focados em corte de gastos, ao priorizar uma redução na arrecadação.
Fontes indicam que o ministro Fernando Haddad tentou convencer o presidente Lula a adiar a implementação da isenção, contando até com o apoio de Gabriel Galípolo, próximo presidente do Banco Central. O presidente, no entanto, optou por manter a proposta, mesmo com alertas de que ela poderia ofuscar as medidas de contenção fiscal implementadas.
O economista André Galhardo, da Remessa Online, avaliou que a recente desvalorização do real frente ao dólar demonstra a apreensão do mercado quanto à postura do governo. Ele apontou que, ao buscar manter o apoio popular, o governo pode acabar implementando cortes de gastos insuficientes, enquanto estimula o consumo por meio de mudanças no Imposto de Renda.
Essa perspectiva reforça a percepção de desequilíbrio entre as medidas de contenção fiscal e as iniciativas inovadoras ao estímulo econômico, intensificando as preocupações sobre o comprometimento do governo em atingir metas fiscais de longo prazo.
Da redação Ponto Notícias l Com informações AE