Ao longo desta semana, integrantes das equipes de Saúde da Família, vinculadas à Secretaria Municipal de Saúde, estiveram envolvidos em um treinamento voltado para o Projeto MIRA-TB. A iniciativa utiliza recursos tecnológicos para identificar e tratar casos de tuberculose entre migrantes, refugiados e pessoas sem nacionalidade definida. A ação é realizada na cidade de Belém graças a uma colaboração entre a administração municipal e a Universidade de São Paulo.
A colaboração com Belém foi estabelecida devido à presença de migrantes internacionais e refugiados na região, especialmente pessoas da etnia Warao, vindas da Venezuela, e haitianos que chegam ao estado através de outras localidades. Muitos desses indivíduos acabam recebendo diagnósticos de tuberculose na cidade. O enfermeiro Willie Bueno Bernardi, estudante de pós-graduação na Universidade de São Paulo e responsável pelo Projeto MIRA-TB, está na capital para conduzir a capacitação destinada às equipes locais.
Desde 2017, Belém desenvolve ações voltadas aos indígenas venezuelanos, com assistência prestada por programas como o Consultório na Rua, o Programa Municipal de Imunização e a Estratégia Saúde da Família, que conta com uma equipe dedicada exclusivamente à comunidade Warao. Vítor Nina, gerente de Atenção Primária à Saúde da Sesma e médico de família, ressalta que muitos desses indivíduos chegam em condições precárias de saúde, agravadas por fatores culturais e sociais. Ele enfatiza o compromisso das equipes de saúde em proporcionar atendimento adequado, respeitando as particularidades culturais dessa população.
O Projeto MIRA-TB, coordenado por pesquisadores e estudantes da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP, concentra-se em ações de rastreamento e tratamento de casos ativos de tuberculose, além de abordar a Infecção Latente da Tuberculose (ILTB) por meio do Tratamento Preventivo da Tuberculose (TPT). Essa abordagem busca prevenir que pessoas expostas ao convívio com pacientes desenvolvam a doença, interrompendo, assim, sua propagação para outras pessoas. Willie Bernardi destaca que o TPT é uma medida essencial para conter a disseminação da tuberculose e proteger as comunidades vulneráveis.
O Projeto MIRA-TB também apresenta uma abordagem inovadora para o tratamento da infecção latente de tuberculose, buscando evitar que essas pessoas desenvolvam a doença ativa. Em vez do tratamento tradicional de seis meses, que exige 180 doses diárias, o novo método propõe um regime mais prático, com uma dose semanal durante três meses, totalizando apenas 12 doses. Além disso, o projeto está implementando o Sistema de Telecuidado para Pessoas Acometidas pela Tuberculose (VDOT), uma ferramenta de telemonitoramento que permite aos profissionais de saúde acompanhar remotamente o progresso dos pacientes. De acordo com o gestor do projeto, a supervisão durante o tratamento aumenta significativamente as chances de conclusão, garantindo maior eficácia na abordagem.
Nesta semana, a capacitação promovida pelo Projeto MIRA-TB envolveu médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e Agentes Comunitários de Saúde (ACS) da Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) que atuam diretamente com indígenas venezuelanos em Belém. Entre os participantes estava Mirla Celeste Borges, técnica de enfermagem da equipe do Consultório na Rua, que esteve presente na atividade realizada na Estratégia Saúde da Família (ESF) Ver-o-Peso na última quinta-feira, 23.
Mirla destacou que, apesar de muitos indígenas diagnosticados com tuberculose serem tratados e curados, desafios culturais frequentemente comprometem a continuidade da medicação, dificultando a recuperação. Para ela, o tratamento preventivo apresentado pelo projeto surge como uma inovação promissora, permitindo intervenções precoces e evitando tratamentos longos e desgastantes. A expectativa agora é aplicar os novos métodos para reduzir o adoecimento na comunidade.
Fabiane Oliveira, referência técnica de Tuberculose e Hanseníase na Secretaria Municipal de Saúde (Sesma), ressaltou que o desenvolvimento do Projeto MIRA-TB em Belém complementa os esforços da equipe na assistência à comunidade Warao. Segundo ela, as dificuldades enfrentadas pelos indígenas para aderir ao tratamento prolongado de tuberculose, devido a seus hábitos, formas culturais de lidar com doenças e condições de vulnerabilidade, tornam o tratamento preventivo um avanço significativo. Fabiane destacou que essa abordagem inovadora tem potencial para preservar a saúde da população Warao de forma mais eficiente e adequada.
Da redação Ponto Notícias l Jeniffer Galvão/SESMA