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Jornalismo de gotejamento

A esquerda no Brasil e os crimes praticados ao longo das décadas.

Por: Redação Fonte: Redação
27/01/2025 às 16h30
Jornalismo de gotejamento
A imprensa esquece apenas os crimes da esquerda; e pede punição para os agentes estatais.

A coluna do jornalista Rodrigo Lopes em Zero Hora que me foi enviada
por uma leitora serve só para disseminar confusão e obscurantismo.
Intitulada "O exemplo argentino", começa por uma afirmação falsa e diz:
"Enquanto o Brasil prefere esquecer o passado - e, por consequência,
repetir os erros -, a Argentina lembra, no ano que vem [2025], os 40
anos do julgamento contra os membros das três juntas militares da última
ditadura (...)".

Não, o Brasil não esquece. É o contrário. Como quem cumpre um rito
religioso, todo dia fala-se do passado, quer dizer, do regime militar.
Mas há que ver como e para que fim é feita a "narrativa".

Nosso conhecido Fernando Gabeira, quando jovem, foi um extremista de
esquerda e militante do grupo terrorista MR-8. Inclusive, em seu livro
"O que é isso, companheiro?", relata sua participação no sequestro do
embaixador americano Charles Elbrick, em 1969. Na maturidade, Gabeira
foi honesto e corajoso declarando o óbvio: disse que eles (os militantes
de esquerda nos anos 1960-70) não lutavam por democracia; o que eles
queriam era implantar uma ditadura comunista no Brasil. Ou seja, o que
eles queriam era dar um golpe de Estado - pelas armas!

Contudo, contrariando o que diz Gabeira, a imprensa vive a gotejar
desinformação, quase sempre no escurinho das entrelinhas (aliás, padrão
de Zero Hora), mantendo a mentira de que os militantes que pegaram em
armas nos anos 1960-70 defendiam a democracia. Nada mais falso!

Também é falso dizer que foi em reação ao governo militar que a esquerda
pegou em armas. Ela já estava armada bem antes da quartelada do 31 de
março de 1964, que só ocorreu porque havia vários grupos (nas cidades e
no campo) armados e agindo para implantar o totalitarismo no país, uns a
serviço da China, outros da União Soviética (muitos treinados em Cuba).

Brasil e Argentina são diferentes. Na transição do regime militar para o
regime civil, o Brasil fez uma escolha, isto é, uma anistia geral, assim
para os agentes do regime como para os extremistas armados. Só que o
grosso de nossa imprensa ignora que "anistia" (do grego "amnestia")
significa "esquecimento". E com flagrante parcialidade se cala sobre o
passado dos seus favoritos e aponta um dedo acusador para os outros.

Durante décadas, a esquerda praticou muitos crimes no Brasil: sequestro
de autoridades; atentados a bomba; assalto a bancos, a casas comerciais
e a residências; assassinatos de operários, militares, funcionários de
bancos e, claro, dos próprios camaradas (os infames justiçamentos) - os
maus também são maus entre si. Com a anistia, todos esses crimes foram
esquecidos. E alguns dos anistiados estão aí na política, ainda hoje.

Mas a imprensa esquece apenas os crimes da esquerda; e pede punição para
os agentes estatais. Nem vou comentar a farsa que foi a tal Comissão da
Verdade engendrada no 1º mandato de Dilma Rousseff.

A coluna de Rodrigo Lopes (ocasionalmente assinada por Vitor Netto), com
mais equívocos que parágrafos, culmina afirmando que a Argentina, "do
ponto de vista de maturidade política, dá um banho no Brasil." Bobagem!
Talvez o articulista não conheça a Argentina. E não saberá como o país,
que já foi referência mundial de riqueza, cultura e elegância, acabou
virando um "case" de retrocesso. Mas ele cumpre o seu papel de gotejar,
gotejar, gotejar preconceitos e fazer a cabeça do leitor mais afoito,
infundindo crenças (falsas!) que bloqueiam o conhecimento.

À parte de suas reais intenções (que não posso adivinhar), o articulista
é, na prática, só mais um a fomentar uma polarização rancorosa e de
fundo ideológico, ignorando a perspectiva histórica, sacralizando um
lado, demonizando o outro e impondo uma ótica parcial. A gravidade da
coisa está em forjar um verniz de legitimidade para o revanchismo e para
a vingança política, matando a ideia de reconciliação nacional.

Só para constar, a coluna de Rodrigo Lopes saiu há mais de mês. Mas eu a
li somente agora, quando me foi remetida por uma leitora. É que eu, já
de algum tempo, não consumo nenhum produto da RBS.


Da redação Ponto Notícias  l  Renato Sant'Ana é Advogado e Psicólogo.

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