É curioso, na excitação nervosa que ferve nas classes civilizadas quando
mencionam os nomes "Donald" e " Trump " na mesma frase, observar
a condição indispensável que exigem para começar qualquer conversa a
respeito: é proibido pensar. Você aceita, logo de cara, que Trump é a
maior calamidade que o gênero humano já conheceu? Então podemos começar
o debate. Você acha mais correto examinar primeiro os fatos, e fazer um
raciocínio lógico sobre as ações concretas do novo presidente americano
até agora, e só depois dar o seu julgamento? Aí não tem debate.
É como na Igreja de outras eras. Ou o sujeito é católico, acredita nos
santíssimos sacramentos e obedece ao que diz o padre, ou não. Se
proceder de acordo com essas condições contratuais, pode aspirar à
salvação. Tem sido assim com Trump. É proibido fazer perguntas objetivas
no assunto, como era proibido perguntar sobre o funcionamento objetivo
da Santíssima Trindade. É questão de fé e de doutrina; não mexa com
essas coisas.
Se fosse possível lidar com a "questão Trump" de maneira racional,
seria interessante, por exemplo, começar perguntando o seguinte: como, e
por que, um país que tem Alexandre de Moraes pode estar preocupado com
as ameaças que, segundo o pensamento oficial, Trump estaria trazendo à
democracia nos Estados Unidos e no mundo? O governo, a esquerda e nossas
classes culturais se dizem apavoradas com Trump. Tudo bem, mas onde há
mais democracia nesse preciso momento - nos Estados Unidos ou no
Brasil?
O presidente americano tem falado sobre aumento nas taxas de importação
- mais falado do que feito, aliás. É intolerável, dizem nossos
pensadores. Mas não é permitido perguntar como seria, em cima de fatos e
números da vida real, essa anunciada destruição da economia global.
Trump quer cortar 20% dos gastos do governo com a eliminação de despesas
inúteis e fraudulentas. E se o Brasil fizesse a mesma coisa? Seria bom
ou ruim? Mais: alguém acredita que os desperdícios e ladroagens do
governo brasileiro sejam de apenas 20% do orçamento público? E os
imigrantes ilegais - por acaso o Brasil aceita imigração ilegal?
Na questão da Ucrânia, uma das que mais enfureceu os comunicadores do
time civilizado até agora, formou-se uma sinuca de bico. O presidente da
Ucrânia é descrito com um herói por defender os interesses da Ucrânia.
Por que o presidente americano não pode defender os interesses
americanos? Ele acha que a população do seu país não vai ganhar nada se
continuar jogando centenas de bilhões de dólares numa guerra que não
pode ser vencida. O Brasil aceitaria isso? Não. Mas pensar, em relação a
Trump, não é uma opção.
Da redação Ponto Notícias l Por J.R. Guzzo