O Fórum Brasileiro de Segurança Pública apresenta nesta segunda-feira os resultados da 5ª edição da pesquisa “Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil”. Os dados mostram um quadro alarmante da violência contra as mulheres brasileiras ao longo dos últimos 12 meses. Segundo a pesquisa, 37,5% das mulheres ouvidas relataram ter sofrido algum tipo de violência no período, a maior prevalência já verificada na série histórica, 8,6 pontos percentuais acima do resultado da última pesquisa, o que representa um universo estimado de 21,4 milhões de brasileiras com 16 anos ou mais. Os números coletados sobre violência sexual também são estarrecedores, tendo em vista que uma em cada 10 mulheres (10,7% do total) relatou ter sofrido abuso sexual e/ou foi forçada a manter relação sexual contra a própria vontade, algo em torno de 5,3 milhões de mulheres.
Para Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os números infelizmente reforçam a sensação de que a violência contra a mulher está crescendo no país. “A pesquisa mais uma vez nos mostra que não há lugar seguro para as mulheres no Brasil: em casa, na rua, no trabalho ou no transporte público, em todos os espaços as mulheres estão vulneráveis a situações de violência e assédio”, destaca Samira. “As iniciativas para frear essa epidemia de violência têm sido insuficientes. Apesar da ampliação do arcabouço legal para proteção das mulheres, não temos visto políticas públicas de proteção tendo prioridade no orçamento público para acessar aquelas mais vulneráveis e que precisam de acolhimento”.
Os dados da “Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil” serão encaminhados à 69ª sessão da Comissão sobre a Condição da Mulher, que ocorre na sede das Nações Unidas, em Nova York, de 10 a 21 de março de 2025. O FBSP fará parte da delegação oficial brasileira e será representado pela pesquisadora sênior Manoela Miklos. A pesquisa foi encomendada junto ao Instituto Datafolha, com apoio da Uber, e ouviu 2.007 pessoas com mais de 16 anos, entre homens e mulheres, em 126 municípios brasileiros, no período de 10 a 14 de fevereiro de 2025.
“A Uber tem a segurança como prioridade e apoiar projetos como esse são parte essencial do nosso compromisso com as mulheres brasileiras no combate à violência de gênero. Esses dados ajudam a promover um debate qualificado, já que somente identificando os fatores que agravam a violência contra a mulher é que é possível desenvolver ações para enfrentar esse problema. É um trabalho crucial e que temos orgulho de apoiar pela terceira vez consecutiva”, diz Araceli Almeida, Head de Operações de Segurança da Uber no Brasil.
Principais Tipos de Violência
Outros Tipos de Violência
Violência com testemunhas
A pesquisa também revela que 91,8% das mulheres que sofreram violência no último ano afirmaram que os episódios ocorreram na presença de terceiros. Em 47,3% dos casos, quem presenciou foram amigos ou conhecidos; em 27%, os filhos; e em 12,4%, outros parentes. De acordo com os dados, os principais agressores são parceiros íntimos ou ex-parceiros, com 40% das violências cometidas por cônjuges, companheiros ou namorados, e 26,8% por ex-cônjuges, ex-companheiros ou ex-namorados; 57% das mulheres entrevistadas indicaram que a violência mais grave ocorreu em sua residência, seguida pela rua, com 11,6% dos relatos.
Perfil das Vítimas
Atitudes das Vítimas
A principal atitude em relação à agressão mais grave sofrida foi não fazer nada (47,4%). Outras atitudes incluem buscar ajuda de um familiar (19,2%), procurar amigos (15,2%) e buscar ajuda na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (14,2%) ou em uma delegacia comum (10,3%). Apenas 25,7% das mulheres que sofreram violência no último ano recorreram a órgãos oficiais, enquanto 33,8% buscaram apoio com família e amigos.
Ciclo da violência
A pesquisa reforça que os episódios mais graves de violência não são fatos isolados, mas fazem parte de um amplo contexto de abusos físicos e emocionais. As mulheres ouvidas pelo estudo relatam que, ao longo da vida e no âmbito de relações íntimas, a conduta do agressor incluiu desrespeito e menosprezo de forma reiterada (31,6%), intimidação (30,6%), comportamentos como olhar mensagens no celular ou no computador da mulher sem sua autorização (29,5%), impedir que a mulher trabalhasse ou estudasse fora (17,1%) e até ameaças de suicídio por estarem descontentes com elas (16,4%).
Assédio
Mais de 29 milhões de brasileiras foram vítimas de assédio no último ano, representando 49,6% das mulheres com 16 anos ou mais entrevistadas. Os tipos mais comuns de assédio incluem:
Metodologia
“Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil” é uma pesquisa quantitativa, elaborada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e aplicada pelo Instituto Datafolha, com abordagem pessoal em pontos de fluxo populacionais. As entrevistas foram realizadas mediante a aplicação de questionário estruturado, elaborado pelo FBSP, com cerca de 20 minutos de duração. A pesquisa teve um módulo específico de autopreenchimento, com questões sobre vitimização aplicadas somente às mulheres. As entrevistadas que aceitaram participar deste módulo responderam sozinhas às questões diretamente no tablet, após orientação do(a) pesquisador(a).
O universo da pesquisa é a população brasileira de todas as classes sociais com 16 anos ou mais, incluindo regiões metropolitanas e cidades do interior de todas as regiões do Brasil. As entrevistas foram realizadas em 126 municípios de pequeno, médio e grande porte, no período de 10 a 14 de fevereiro de 2025. A amostra total nacional foi de 2.007 entrevistas, enquanto a amostra total de mulheres foi de 1.040 entrevistas, sendo que, destas, 793 aceitaram responder ao módulo de autopreenchimento.
Ambas as amostras permitem a leitura dos resultados no total do Brasil. A margem de erro para o total da amostra nacional é de 2,0 pontos para mais ou para menos. A margem de erro para o total da amostra de mulheres participantes do autopreenchimento é de 3,0 pontos para mais ou para menos.
Da redação Ponto Notícias l Lucas Assumpção