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Governo paraguaio questiona Brasil sobre suposto monitoramento da Abin

Chanceler convoca embaixador brasileiro para esclarecimentos enquanto diplomata paraguaio retorna a Assunção para consultas

Por: Redação Fonte: Redação
02/04/2025 às 21h30 Atualizada em 02/04/2025 às 21h53
Governo paraguaio questiona Brasil sobre suposto monitoramento da Abin
Autoridades paraguaias buscam esclarecimentos sobre a suposta ação de monitoramento conduzida pela Abin em sistemas do governo do país.

O representante da diplomacia paraguaia, Ramírez Lezcano, comunicou nesta terça-feira que solicitou a presença do embaixador do Brasil em Assunção, José Antônio Marcondes, para obter esclarecimentos a respeito do alegado monitoramento de sistemas governamentais do Paraguai pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

Em um sinal de que o tema gerou tensão entre os dois países, a administração paraguaia decidiu chamar de volta a Assunção, "para consulta", seu embaixador em Brasília, Juan Ángel Delgadillo. O objetivo é que o diplomata apresente um relatório detalhado sobre as informações recebidas do governo brasileiro a respeito do caso.

De acordo com uma fonte ligada ao meio diplomático, a solicitação feita ao representante brasileiro em Assunção é considerada um procedimento comum diante do cenário atual. Durante a reunião, o embaixador teria informado às autoridades paraguaias que o ocorrido está vinculado à administração do ex-presidente Jair Bolsonaro, sem relação com a gestão atual.

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A informação sobre a atuação da Abin foi divulgada na segunda-feira, apontando que a agência teria acessado indevidamente sistemas de autoridades paraguaias, incluindo da Presidência e do Congresso, por meio de e-mails com programas espiões. O caso foi relatado por um integrante da própria instituição em depoimento à Polícia Federal, dentro das investigações sobre o uso irregular dos recursos de inteligência do governo.

No testemunho prestado, o funcionário relatou que a Abin utilizou um software conhecido como Cobalt Strike para criar um programa capaz de acessar os sistemas do governo paraguaio. A intenção da agência era obter dados relacionados às tratativas sobre a comercialização da energia gerada pela usina de Itaipu, cuja produção é compartilhada entre Brasil e Paraguai.

As informações apresentadas pelo agente à Polícia Federal foram divulgadas inicialmente pelo portal UOL e tiveram sua veracidade confirmada pelo jornal O GLOBO.

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Durante o depoimento, o funcionário afirmou que dispositivos vinculados ao Congresso paraguaio, incluindo a Câmara e o Senado, além da Presidência do país, foram acessados indevidamente. Segundo ele, informações de cinco ou seis pessoas foram coletadas, entre elas as do Presidente do Paraguai, do Presidente do Senado e de autoridades envolvidas diretamente nas negociações sobre os valores a serem cobrados por megawatt na venda de energia.

O Itamaraty contestou essa versão e, em comunicado oficial, afirmou que a operação de inteligência que previa a invasão dos sistemas paraguaios foi autorizada em junho de 2022, durante o governo Bolsonaro, mas interrompida em março de 2023, já sob a administração de Luiz Inácio Lula da Silva.

A operação ocorreu em um período de negociações entre os dois países sobre o reajuste no valor pago pelo Brasil pela parcela de energia gerada em Itaipu que cabe ao Paraguai. Conforme o acordo vigente, o país vizinho vende ao Brasil o excedente não utilizado internamente. O novo montante, inferior ao solicitado pelo Paraguai, foi definido em 2023.

O depoimento do agente integra a investigação iniciada após uma reportagem do GLOBO revelar o uso da ferramenta FirstMile para monitorar ilegalmente opositores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo o agente, a ação contou com autorização do então chefe da Abin no governo anterior e, posteriormente, também recebeu aval do atual diretor da agência, Luiz Fernando Corrêa, que assumiu o cargo em 2023.

O episódio amplia as tensões diplomáticas entre Brasil e Paraguai, colocando em xeque a relação de confiança entre os dois países, especialmente no contexto das negociações sobre Itaipu. A convocação do embaixador brasileiro e o retorno do representante paraguaio para consultas demonstram a gravidade com que o governo vizinho encara a situação, enquanto Brasília tenta minimizar o impacto alegando que as ações ocorreram na gestão anterior. No entanto, a persistência do tema no cenário político pode dificultar acordos futuros e reforçar um ambiente de desconfiança mútua.

Além das implicações diplomáticas, a questão também expõe diferenças ideológicas entre os governos, com o atual Brasil alinhado a políticas progressistas enquanto o Paraguai mantém uma postura mais conservadora em sua administração. O incidente envolvendo a Abin se soma a um histórico de divergências sobre segurança, economia e infraestrutura entre os dois países, podendo ser explorado politicamente tanto no Brasil quanto no Paraguai. A forma como esse impasse será resolvido pode indicar os rumos da relação bilateral nos próximos anos.

Da redação Ponto Notícias l Brasília

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