Uma declaração, mesmo vinda de um artista consagrado, pode marcar negativamente toda uma trajetória. Quando John Lennon afirmou, nos anos 1960, que os Beatles eram mais populares que Jesus Cristo, causou revolta mundial e viu discos sendo queimados em praças públicas. Décadas depois, o impacto daquela frase ainda é lembrado como um dos momentos mais polêmicos da carreira do grupo. No caso brasileiro, a postura recente de Nasi segue caminho parecido, ao afastar parte do público com declarações consideradas ofensivas e sectárias.

Hoje, as canções dos Beatles seguem influentes, mas o entusiasmo massivo que os cercava arrefeceu — restrito, em grande parte, aos ouvintes da geração que viveu seu auge. A fala de Nasi parece repetir esse fenômeno, ao restringir seu público e transformar uma banda com legado no rock nacional em um símbolo de polarização. O risco é claro: ao priorizar o embate ideológico, artistas acabam desconsiderando o papel plural da cultura, que deveria unir mais do que dividir.

No Brasil, a maior parte da população está envolvida em um cotidiano já marcado por tensões e divisões. Reforçar essas linhas em um ambiente cultural pode ter pouco efeito positivo. Comentários que excluem, desvalorizam ou marginalizam determinados grupos afastam o público e enfraquecem a relevância artística. Em vez de contribuir com pontes, esse tipo de posicionamento aprofunda barreiras — e transforma o palco, antes espaço de expressão e encontro, em território de afastamento.

"Banda Ira!: uma história que foi grandiosa e hoje enfrenta decadência."

A formação musical Ira! precisou suspender apresentações em quatro municípios da região Sul do país. A decisão veio após uma declaração do cantor Marcos Valadão Ridolfi, o Nasi, solicitando que pessoas que apoiam o ex-presidente Jair Bolsonaro deixem de frequentar os eventos da banda.

A empresa encarregada pela realização dos eventos divulgou um informe explicando que, diante dos recentes episódios envolvendo a banda, foi necessário suspender as apresentações previstas para Jaraguá do Sul (SC), Blumenau (SC), Caxias do Sul (RS) e Pelotas (RS). No mesmo informe, foi mencionado que a produtora registrou uma grande quantidade de solicitações de reembolso de ingressos, motivadas pela manifestação pública de Nasi, em que ele direcionou palavras aos apoiadores de Jair Bolsonaro.

Além da suspensão das apresentações, empresas que patrocinavam os eventos decidiram retirar seu apoio, alegando incertezas quanto à continuidade da comercialização de ingressos. A situação se agravou especialmente nas cidades catarinenses de Jaraguá do Sul e Blumenau, locais reconhecidos por sua predominância de eleitores com inclinação à direita no espectro político.

No dia 29 de março, durante uma apresentação, o vocalista Nasi reagiu às vaias do público após se posicionar contra a proposta de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro. Diante da reação negativa, ele se dirigiu diretamente a parte da plateia, solicitando que se retirassem do evento e que não comparecessem mais a futuros shows da banda. Também pediu que deixassem de consumir os trabalhos musicais do grupo.

O artista comentou sobre sua trajetória política e seu posicionamento ideológico. Declarou que suas convicções são firmes e que sempre se posicionará ao lado das causas sociais e trabalhistas. Na ocasião, Nasi também destacou sua ligação com movimentos sindicais e afirmou que seu engajamento político está diretamente ligado à forma como enxerga a arte e a cultura no país.

A Rádio Ponto News sempre prezou por manter uma relação próxima e transparente com seu público. Com presença ativa em grupos de notícias musicais, a emissora acompanha de perto as reações dos ouvintes e valoriza o diálogo constante. Nos últimos dias, os depoimentos relacionados à banda Ira! têm causado espanto entre membros desses grupos, refletindo-se na retirada de canções do grupo da programação de algumas rádios pelo país.

Entre os ouvintes fiéis, também surgiram reações. Um deles, ao comentar na segunda-feira, afirmou gostar da programação da Rádio Ponto News, mas deixou claro seu incômodo com a permanência de músicas da banda. Segundo ele, sempre que uma canção do grupo é executada, ele opta por desligar a transmissão por três minutos antes de retornar à escuta. O relato ilustra o impacto direto que a seleção musical pode ter no comportamento da audiência, especialmente quando envolve artistas que protagonizam polêmicas públicas.

A emissora segue atenta ao que pensa e sente sua audiência, reafirmando o compromisso com o equilíbrio entre diversidade musical e respeito às percepções do público, buscando manter a credibilidade e o carinho que construiu ao longo do tempo.

Da redação Ponto Notícias l Redação Ponto News Rio