Empreendedores que mantêm seus estabelecimentos próximos à BR-153, entre Rianápolis e Nova Glória, na região do Jardim Paulista, vivem um momento de incerteza diante da possibilidade de serem retirados do local. A situação tem gerado preocupação, já que a medida estaria ligada aos projetos da empresa responsável pela administração da via.
O planejamento prevê intervenções no trecho compreendido entre Anápolis e Aliança do Tocantins, o que envolve a ampliação da estrada e a implantação de uma nova travessia sobre o Rio das Almas. A proposta, segundo relatos de residentes e informações divulgadas por um veículo de comunicação regional, inclui ações iniciais como análises técnicas e aferições feitas por equipes especializadas.
Com esses primeiros movimentos sendo observados no entorno, cresce entre os comerciantes a expectativa sobre o início das obras, que poderão afetar diretamente suas atividades. A duplicação da estrada, embora vista como necessária para a melhoria do fluxo, traz consigo o risco de impactos socioeconômicos para quem atua na área há anos.
É importante destacar que a presença de qualquer estrutura nas proximidades da rodovia exige permissão específica das autoridades responsáveis pela gestão do setor rodoviário. No entanto, os trabalhadores que atuam no local não possuem tal permissão, conforme relato de um deles. Segundo o comerciante, que preferiu não se identificar por receio de represálias, muitos mantêm suas atividades ali há décadas, garantindo o sustento de suas famílias sem terem enfrentado restrições ao longo dos anos.
Esse cenário tem gerado preocupação entre os que dependem economicamente do ponto. Mesmo com o longo tempo de ocupação, os trabalhadores não foram formalmente reconhecidos pelos órgãos reguladores. A insegurança quanto ao futuro cresce, especialmente diante da possibilidade de serem removidos sem negociação.
A maioria dos comerciantes, temendo possíveis ações por parte da empresa que administra a rodovia, recusou-se a fornecer detalhes sobre suas identidades ou o tipo de produto que comercializam. Eles alegam temer algum tipo de retaliação caso suas informações sejam tornadas públicas, o que evidencia o clima de tensão vivido no local.
Alguns empresários informaram que já receberam um comunicado oficial da empresa responsável pela rodovia, exigindo a desocupação imediata das áreas que ocupam. Contudo, não foi apresentada nenhuma alternativa para a continuidade de suas atividades em outro local. Um dos comerciantes, visivelmente indignado, relatou que a notificação foi entregue de forma abrupta, com a ameaça de que, caso a área não fosse desocupada, ações mais drásticas, como a presença de máquinas para destruir os estabelecimentos, seriam tomadas.
Outro comerciante, embora reconheça a irregularidade de sua ocupação, levantou uma questão angustiante: se ele estava ali há mais de 20 anos sem problemas, por que agora está sendo forçado a deixar o local? Com a voz embargada, ele expressou sua preocupação com o futuro, especialmente por depender daquele trabalho para sustentar sua família, composta por esposa e três filhos pequenos. Ele se vê sem alternativas, pois não sabe para onde poderá ir caso seja retirado.
Uma comerciante, que está no local há mais de 20 anos, compartilhou com a reportagem que a situação a está afetando emocionalmente, gerando um quadro de preocupação constante. Ela não sabe o que o futuro lhe reserva e expressou a angústia de ter que abandonar tudo o que construiu ao longo dos anos. “Estamos vivendo uma incerteza em relação ao que vamos fazer. Penso que teremos mesmo que deixar tudo para trás e recomeçar em outro lugar, mas onde e como? Peço às autoridades que nos ajudem”, apelou, visivelmente afetada pela situação.
Outro trabalhador, que comercializa melancia e também reside na área com sua família, inclusive com filhos pequenos, teme ainda mais as consequências da remoção. Ele relata que, apesar de sua ocupação ser irregular, ainda não recebeu uma notificação oficial. No entanto, foi informado de que sua situação seria analisada com atenção. Apesar da promessa de um olhar mais cuidadoso sobre seu caso, ele segue apreensivo. “Tenho medo do que pode acontecer. Mas eles não me deram a notificação e disseram que vão olhar minha situação com carinho. Espero que realmente isso aconteça”, destacou, com um misto de esperança e receio.
O vereador de Nova Glória, Elias José da Silva (Elias PM), do PL, que representa a comunidade do Jardim Paulista, expressou sua preocupação com a situação, destacando que a medida da concessionária tem gerado muita apreensão entre os moradores. Ele afirmou que a entrega de documentos pela Ecovias, exigindo a saída dos comerciantes das margens da rodovia, tem causado insegurança. "Isso preocupa muito, porque são famílias que dependem desses comércios para sobreviver", comentou, ressaltando os impactos sociais que a decisão pode causar à comunidade local.
Segundo o vereador, a estimativa é que entre 35 e 40 comerciantes sejam diretamente afetados pela desocupação da área. Ele ressaltou que cada barraca no local emprega, em média, duas pessoas, o que significa que cerca de 70 postos de trabalho podem ser perdidos. Elias também explicou que, embora os comerciantes já tenham sido notificados, ainda não há um prazo oficial para a desocupação. A concessionária informou que as obras de duplicação devem começar dentro de um ano, mas não especificou a data para a saída dos trabalhadores, apenas comunicou que será necessário que eles deixem o local.
O vereador destacou que tem buscado apoio junto a diferentes esferas do poder público e a parlamentares para encontrar uma solução para a situação. Ele mencionou que conversou com o deputado federal José Nelton, com quem firmou um acordo para tentar mediar uma resolução junto à Ecovias. O deputado se comprometeu a negociar com a concessionária, já que, aparentemente, haverá necessidade de indenizar os comerciantes afetados.
Elias também comentou sobre as dificuldades no diálogo com a empresa responsável pela rodovia. Segundo ele, as conversas têm sido frustrantes, já que os representantes afirmam que apenas superiores podem resolver a questão, mas esses superiores nunca estão disponíveis. Como resultado, o vereador buscou o apoio do deputado para pressionar as autoridades superiores da concessionária.
Além disso, a Prefeitura de Nova Glória está envolvida nas negociações. Elias mencionou que o prefeito tem se empenhado em buscar uma solução, mantendo tratativas com a empresa para tentar resolver o impasse e garantir um desfecho favorável para os comerciantes afetados.
Apesar da situação incerta, alguns comerciantes já tomaram medidas por conta própria, adquirindo terrenos em outros locais na tentativa de garantir a continuidade de seus negócios. "Uns dez já compraram terrenos em outros locais. Mas tem gente que não tem condição de adquirir outro espaço", lamentou o vereador Elias, ressaltando as dificuldades enfrentadas por muitos.
Ele também destacou que a maioria dos estabelecimentos na área existe há muitos anos, com alguns comerciantes estando ali por duas décadas. "Tem comerciante aqui que está há 20 anos, criou a família com esse trabalho. É o ganha-pão deles", afirmou Elias, enfatizando como a remoção pode afetar negativamente muitas famílias que dependem dessa fonte de renda.
Quando questionado sobre a legalidade das ocupações, Elias reconheceu que os comerciantes não possuem autorização formal para atuar no local. "Ninguém tem permissão da ANTT nem do DNIT. Simplesmente construíram. Hoje em dia, nem energia estão liberando mais para quem quer montar algo nas margens da BR", explicou, esclarecendo que, embora as ocupações sejam irregulares, isso não diminui o impacto que a remoção terá para os envolvidos.
A previsão é que as obras de duplicação da rodovia comecem no próximo ano. "Eles já estão monitorando a ponte e devem começar a obra logo. Mas você sabe como é no Brasil, tudo atrasa. Pode ser que demore dois anos ainda", ponderou o vereador, refletindo sobre a incerteza quanto ao cronograma de execução.
Elias concluiu a conversa com um apelo, destacando os esforços da Prefeitura de Nova Glória para buscar uma solução para os comerciantes afetados. "A prefeitura está fazendo um estudo para tentar arrumar um terreno para esses comerciantes. Mas, por enquanto, não há uma solução concreta. O pessoal está apreensivo, com medo de perder tudo de uma hora para outra", finalizou, reforçando a tensão e a insegurança vividas pela comunidade local diante da falta de respostas claras.
O deputado federal José Nelto (UB), conhecido por denunciar a precariedade da ponte sobre o Rio das Almas, afirmou que ainda não foi procurado para discutir a situação dos comerciantes. Ele considerou o problema grave e destacou a importância do diálogo para a resolução. "Ainda não fui acionado, mas estou pronto e aguardando esse chamado, pois tudo deve ser feito com base no diálogo", afirmou o deputado.
Além disso, Nelto ressaltou que, independentemente de ser convocado, tomará a iniciativa de agendar uma reunião com os comerciantes do Jardim Paulista e de Rianápolis. "Podem contar comigo", concluiu, reforçando seu compromisso em apoiar os trabalhadores afetados pela possível remoção.
Comerciantes localizados às margens da BR-153, no trecho sob a responsabilidade da concessionária Ecovias do Araguaia, devem ser removidos em breve. A medida faz parte das preparações para o início das obras de duplicação da rodovia, previstas para começar no 4º ano de concessão, que iniciou em outubro de 2024.
A concessão teve início em 8 de outubro de 2021, o que significa que o 5º ano ocorrerá em outubro de 2025, quando a duplicação da rodovia deverá ser iniciada. De acordo com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), o Programa de Exploração da Rodovia (PER) prevê que a duplicação aconteça no 5º ano do contrato. No entanto, a construção da nova ponte sobre o Rio das Almas, que estava inicialmente prevista para um momento posterior, teve sua execução antecipada para o 4º ano, o que indica que as obras podem começar em breve.
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