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Quem apita não chuta

O Supremo importou, sem tarifa nem abatimento, certas consequências que lhe eram alheias.

Por: Redação Fonte: Redação
15/04/2025 às 15h00
Quem apita não chuta
O parlamento é o poder efetivamente representativo do povo brasileiro - este sim, fonte de onde “emana todo poder”

Na narrativa que construiu e o Consórcio Goebbels de imprensa acolheu
como revelação divina, o Supremo redige os eventos dos últimos anos como
se estivesse tão equidistante do jogo político quanto deveria
efetivamente estar. Descreve "o cenário mais amplo" como se não fosse
intensa e reconhecida por todos os jornalistas do país sua atividade no
palco dos acontecimentos! Aliás, quando seus membros não querem falar
por si mesmos, há profissionais da imprensa, selecionados a dedo, que se
prestam à função de meninos e meninas de recados nunca desmentidos. De
resto, são os ministros, eles mesmos, que reconhecem tais atividades
quando, ante públicos seletos, querem destacar seu protagonismo. Foi o
ministro Barroso quem melhor explicitou o vulto dessa atuação ao
sublinhar à "vertiginosa ascensão política do STF".

Dão prova disso as múltiplas interferências do Supremo em decisões do
governo Bolsonaro, a natureza política de tantas manifestações
espontâneas dos ministros, a animosidade crescente, o enviesamento
ideológico da Corte, que bem antes de 2021 já ganhara o nome de ativismo
judicial. Também marcam presença do Supremo num palco de operações
integral, não recortado nem híbrido: o antagonismo em relação aos
conservadores, as práticas "contramajoritárias", a censura, as multas,
as ameaças e prisões, os bloqueios de canais, as desmonetizações, o
combate às redes sociais e os múltiplos ataques à liberdade de
expressão. Há todo um pacote de anomalias políticas que vêm sendo
normalizadas pela prática continuada, com irrestrito apoio da base do
governo e do Consórcio Goebbels com seus paninhos.

Ao abrir a porta para a atividade política, o Supremo importou, sem
tarifa nem abatimento, certas consequências que lhe eram alheias. Por
metáfora, se pode explicar a situação dizendo que, nesse jogo da
política, as chuteiras têm travas e todo mundo tem canela e a
consequência, também metaforicamente, vem sendo chamada de crise
institucional. Eis por que é de bons modos e boas práticas ser
intransponível a distância entre o apito e a chuteira. Quem apita não
chuta.

O Congresso Nacional é o coração político do país, não o Supremo, não o
Palácio do Planalto. O parlamento é o poder efetivamente representativo
do povo brasileiro - este sim, fonte de onde "emana todo poder",
mediante a representação parlamentar que elege. A submissão do Congresso
acorrenta e algema a democracia. Festeje-se, então, ter sido
ultrapassado com folga, em poucos dias, o número de assinaturas (257)
necessárias para impor às instáveis convicções do presidente Hugo Motta
que submeta ao plenário o PL da Anistia.

Se quem sabe faz a hora, como cantou Vandré, ponderem os deputados e
senadores: ou assumem as rédeas da política ou continuarão, por muitos
anos, servindo de montaria a um poder sem votos. Ou aceitam a doma ou
corcoveiam e restauram a representação que lhes corresponde.

Da redação Ponto Notícias l  Por Percival Puggina

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