Brasília foi o primeiro conjunto urbano do século 20 a receber o título de Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco, em 1987. A capital brasileira é destacada por sua concepção moderna e pelas estruturas icônicas criadas por Oscar Niemeyer. O arquiteto Fábio Chamon Melo ressalta que o reconhecimento traz a responsabilidade de conservar esse legado que representa não apenas os brasileiros, mas toda a comunidade internacional.

O edifício-sede do Parlamento Federal alcançou 65 anos de existência nesta segunda-feira, 21. A ocasião coincide com a celebração da fundação da capital federal e simboliza o momento em que o Legislativo deixou sua antiga sede no Sudeste para se estabelecer no centro do país. Criada por Oscar Niemeyer, a estrutura é uma das mais emblemáticas da nova capital e ocupa lugar especial entre as obras do urbanista.

As duas estruturas arredondadas no topo do prédio — uma voltada para o solo e outra direcionada ao céu — tornaram-se representações marcantes da arquitetura modernista brasileira.

Oscar Niemeyer frequentemente expressava afeto especial pela sede do Parlamento. Em conversa publicada pelo Correio Braziliense no final da década de 1990, ele recordou o momento marcante da execução do projeto, destacando o instante em que os suportes da cobertura da ala legislativa foram removidos, revelando a estrutura com sua imponência serena. Ele comentou sobre a maneira como os elementos suspensos remetem à função institucional de cada espaço, representando com clareza a hierarquia funcional. Para Niemeyer, a junção harmoniosa entre engenharia e expressão artística era essencial — uma parceria que, segundo ele, se fortalece mutuamente. O urbanista afirmou que se encantou pela solução adotada.

O especialista Fábio Chamon Melo, que desenvolveu pesquisa acadêmica sobre a elaboração do complexo legislativo, comenta sobre os significados presentes nas formas curvas e a conexão delas com a dinâmica das atividades normativas exercidas no local.

Segundo Fábio Chamon Melo, as formas contrastantes de cada volume arquitetônico representam a existência de dois corpos distintos que compartilham o mesmo espaço institucional. Ele destaca que essa escolha projetual traduz uma solução engenhosa, pois, ao mesmo tempo em que evidencia a independência funcional de cada instância, promove a interação entre elas. A composição arquitetônica, segundo ele, reforça a ideia de diálogo e cooperação, sem perder a identidade singular de cada uma, demonstrando um equilíbrio entre criatividade formal e clareza simbólica.

Os ambientes internos do edifício que abriga as duas casas legislativas são enriquecidos por uma curadoria de peças artísticas e mobiliário característicos da estética modernista, tanto nacional quanto internacional. Esses elementos foram selecionados para compor a ambientação dos salões de circulação e representatividade, refletindo os ideais estéticos e políticos da época de sua concepção. A pesquisa acadêmica de Fábio Chamon Melo, apresentada recentemente na Universidade de Brasília, se dedica a documentar e analisar esse acervo como parte integrante do valor histórico e simbólico do edifício, reforçando seu papel como marco da arquitetura e cultura brasileira do século XX.

Para Fábio Chamon Melo, a concepção do edifício e a ambientação de seus espaços internos formam um todo inseparável. Ele defende que o interior deveria expressar, com ainda mais intensidade, o caráter solene e representativo típico de um palácio dentro da linguagem do modernismo. Segundo o pesquisador, a inserção de obras artísticas no projeto era essencial para construir essa atmosfera, reforçando não apenas o valor simbólico da sede legislativa, mas também a harmonia entre forma arquitetônica e expressão cultural.

A ambientação com móveis, conforme destacam Matta e Chamon, representa uma etapa importante no desenvolvimento do projeto original. Embora idealizados anteriormente, os elementos de mobiliário propostos por Niemeyer só foram incorporados décadas depois, especificamente entre o final da década de 1960 e início dos anos 1970. Essa implementação coincidiu com uma intervenção estrutural no prédio, que resultou na liberação de áreas anteriormente ocupadas por gabinetes no espaço conhecido como Salão Verde. Foi nesse contexto que o arquiteto pôde ampliar sua visão artística, introduzindo no ambiente peças de design reconhecido — inclusive criações suas — e compondo os espaços com trabalhos de figuras destacadas das artes visuais brasileiras.

Chamon ressalta que esse conjunto de peças inclui criações feitas sob medida para os espaços do edifício legislativo e permanece acessível ao público que visita a sede do Poder Legislativo Federal.

Brasília foi reconhecida internacionalmente por seu valor arquitetônico e urbanístico ao ser declarada, ainda na década de 1980, como exemplo único do planejamento moderno do século passado. Com esse reconhecimento por parte da entidade global voltada à cultura, ciência e educação, tornou-se um marco mundial. Chamon reforça que a preservação desse conjunto é dever coletivo do Brasil, visto que sua relevância transcende fronteiras nacionais e pertence ao patrimônio simbólico da humanidade.

Da redação Ponto Notícias l  Com informações da Agência Câmara de Notícias