A cena da onça-pintada mergulhando no rio é mais que um espetáculo: é a memória viva de tudo que ainda pulsa neste mundo esquecido. Em Porto Jofre, no Pantanal, a rainha dourada mostrou sua força diante das lentes. Mas enquanto um salto impressionava os olhos, a violência da natureza humana explodia fora da câmera: um chacareiro destruiu duas vidas — a de um homem e a de uma onça — em um mesmo dia. A selvageria que criticamos nos animais, carregamos em nosso próprio peito. Somos predadores disfarçados, civilizados apenas na superfície. A diferença é que o animal mata para viver; o homem, muitas vezes, mata por medo, desespero ou vazio. Na verdade, somos feitos do mesmo barro da terra que rasgamos com nossas mãos.
A vida no campo não é romântica como se pinta. Para quem depende do gado, perder um bezerro por semana para as onças foi a semente de um ódio antigo. Primeiro, defendiam o rebanho — depois, a matança tomou corpo, sem medida nem consciência. Matava-se porque era mais fácil do que entender. Matava-se porque parecia justo até que o peso das mortes começou a cobrar um preço invisível. Os próprios matadores passaram a enxergar a injustiça estampada em cada pele estendida no chão. No final, ninguém lutou pela vida: nem os donos da terra, nem os protetores das matas, nem os que se diziam neutros. O Pantanal se calou. E agora, cada salto, cada nado, cada rugido é uma lembrança do que estamos perdendo — por nossas próprias mãos.
Uma majestosa onça foi o centro das atenções em uma impressionante cena natural registrada em Porto Jofre, a cerca de 104 quilômetros da capital mato-grossense, no coração do Pantanal. O registro do momento em que o felino se lança no rio em busca de uma presa foi compartilhado pelo perfil Pantanal Blog, conquistando rapidamente grande repercussão nas redes sociais.
Com um movimento preciso e um salto que atingiu quase dois metros, o animal cruzou o espaço como um relâmpago dourado, reafirmando sua soberania sobre o ambiente pantaneiro. A sequência, que impressionou pela força e destreza, evidenciou a imponência desse caçador que domina um território repleto de outros animais robustos, como jacarés, capivaras e serpentes gigantes.
Ao contrário de outros felinos de grande porte que evitam entrar em rios e lagos, a onça-pintada não hesita em se lançar nas águas. Sua habilidade aquática impressiona: o animal desliza de maneira quase imperceptível, alcançando velocidades de até 32 km/h durante o nado.
Dotada de uma mordida extremamente poderosa, comparável à força de uma prensa hidráulica, ela é capaz de romper cascos e ossos com facilidade, como se fossem frágeis galhos secos. Sua força e destreza fazem dela a verdadeira soberana de seu território selvagem.
Sua habilidade vai além da força física: nasce também de uma inteligência aguçada. A onça domina a arte da surpresa, sabendo como se camuflar, observar com paciência e agir com precisão no instante exato. O salto realizado em Porto Jofre naquele dia parecia romper as leis da física, um verdadeiro espetáculo de agilidade e potência.
Em meio às águas e terras mutáveis do Pantanal, onde rios desenham novos mapas a cada temporada de cheia, esse grande felino não apenas sobrevive — ele brilha. Com sua pelagem dourada salpicada de manchas, a onça encarna a essência selvagem do bioma, assumindo com majestade o papel de protagonista incontestável desse cenário natural.
O momento registrado em Porto Jofre também traz uma reflexão urgente: a beleza só existe porque o ambiente ainda resiste. Sem as florestas às margens dos rios, sem as águas que sustentam a vida, o espetáculo desaparece. Sem habitat, a força da onça se dissolve no vazio, e o som vibrante da natureza se transforma em silêncio.
Mais do que um registro impactante, o vídeo carrega uma mensagem poderosa. Ele nos lembra que cada imagem vibrante depende de todo um equilíbrio frágil. A majestosa onça fez sua parte, reafirmando seu domínio. Agora, cabe a nós proteger o cenário que permite que essas histórias continuem a ser contadas.
Da redação Ponto Notícias l Com jnformação Beto Ribeiro.