A confirmação de focos de gripe aviária de alta patogenicidade em áreas do Rio Grande do Sul provocou uma reação imediata no mercado internacional e desencadeou medidas restritivas a produtos brasileiros. Com a suspensão das exportações de carne de frango e derivados por parte de importantes parceiros comerciais, o setor avícola nacional passou a enfrentar uma das mais delicadas crises sanitárias dos últimos anos, com projeções de prejuízos bilionários e impacto direto na cadeia produtiva.
A maior parte da produção brasileira de carne de frango se localiza no Sul do país, com destaque para o Paraná, que ocupa a primeira posição, seguido por Santa Catarina e pelo Rio Grande do Sul. Juntas, essas três unidades da federação são responsáveis por mais de três quartos das exportações nacionais do setor, segundo informações do IBGE.
Nos quatro primeiros meses do ano, o país registrava desempenho recorde nas vendas internacionais de carne de frango, alcançando o maior volume embarcado e maior receita cambial desde 2020. De janeiro a abril, o setor apresentou crescimento tanto na quantidade exportada quanto no faturamento obtido em comparação ao mesmo período do ano anterior, conforme dados oficiais da área de comércio exterior.
Em um cenário mais severo, com suspensão das exportações por dois meses, as perdas financeiras do setor podem ultrapassar a marca de dois bilhões de dólares. O impacto final, no entanto, está diretamente ligado ao tempo necessário para eliminar os focos da enfermidade e à disposição dos países importadores em restabelecer os acordos comerciais após o controle sanitário da situação.
Caso o desempenho nas exportações de carne de frango entre maio e junho de 2025 repetisse os números registrados no mesmo período do ano anterior, o país movimentaria mais de 830 mil toneladas e ultrapassaria 1,4 bilhão de dólares em receitas. No entanto, com a suspensão imposta por importantes compradores internacionais, a estimativa é que aproximadamente metade desse volume encontre barreiras no comércio exterior, forçando a redistribuição interna de um excedente superior a 400 mil toneladas.
No cenário projetado com a retenção de grandes volumes no mercado interno, especialistas avaliam que seria necessário um aumento significativo no consumo nacional para equilibrar a oferta excedente. Diante da atual média anual de ingestão individual, estima-se que cada cidadão precisaria ampliar seu consumo em cerca de 5 quilos durante o período de dois meses de restrição. Contudo, esse salto no consumo é considerado improvável, já que se trata de uma das carnes mais acessíveis e já amplamente consumidas no país.
O especialista contesta declarações recentes do governo e alerta para os desdobramentos econômicos da suspensão das exportações. Ele aponta que produtores e empresas do setor deverão enfrentar perdas financeiras, com redução nas margens de lucro e dificuldades operacionais. Além disso, ressalta que a infraestrutura disponível para armazenar o excedente de carne é limitada, com capacidade estimada para pouco mais de duas semanas, o que agrava ainda mais a situação e pressiona o setor a buscar soluções rápidas.
Diante desse cenário, o desafio do setor não se limita apenas ao controle sanitário da doença, mas envolve também estratégias logísticas, econômicas e diplomáticas para mitigar os prejuízos. A superoferta de carne no mercado interno, a limitação dos estoques refrigerados e a demora na retomada das exportações exigem respostas rápidas e coordenadas entre governo e indústria para evitar consequências mais severas para produtores e consumidores.
Da redação Ponto Notícias l Victor Faverin