O Dia Mundial Sem Tabaco, celebrado em 31 de maio, é uma iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) que visa alertar a população sobre os perigos do tabagismo e promover ações voltadas à sua redução. Embora os riscos mais frequentemente associados ao cigarro envolvam doenças cardiovasculares e pulmonares, há uma série de impactos igualmente sérios, porém menos discutidos, relacionados à saúde bucal. Nesse contexto, especialistas como a Dra. Bruna Ghiraldini, Coordenadora de Pesquisa e Desenvolvimento da S.I.N., chamam atenção para os danos provocados pelo cigarro na cavidade oral — danos que podem ser desde incômodos estéticos e funcionais até doenças graves e fatais.

Segundo dados da própria OMS, o tabaco é responsável por mais de 8 milhões de mortes anuais no mundo. Na boca, os efeitos do cigarro são amplos e preocupantes: o consumo contínuo prejudica a gengiva, os dentes, a mucosa oral e estruturas como a língua, o palato e até as glândulas salivares. Um dos principais problemas apontados pela Dra. Bruna é a doença periodontal — termo que inclui gengivite e periodontite —, provocada pela redução da irrigação sanguínea na gengiva, o que compromete o sistema imunológico local e facilita infecções.

Dados científicos mostram que fumantes, especialmente os com mais de 60 anos, apresentam significativamente menos dentes em comparação com pessoas que nunca fumaram: 48% menos no caso de homens e 29% menos no caso das mulheres. A doença periodontal é hoje a principal causa da perda dentária em adultos.

Além disso, o tabagismo altera a flora bucal, causando halitose crônica devido à liberação de compostos voláteis de enxofre. A nicotina e o alcatrão presentes nos cigarros também aderem ao esmalte dos dentes, causando manchas de difícil remoção e escurecendo progressivamente os dentes com tons amarelados, acinzentados e até marrons. Os efeitos estéticos são apenas um dos aspectos mais visíveis dos danos, mas há implicações muito mais graves. Fumantes têm risco elevado de desenvolver cânceres de boca, língua, laringe e faringe, com o risco aumentando proporcionalmente ao tempo e à quantidade de exposição ao fumo.

A leucoplasia oral, lesão branca que pode preceder o câncer, também está associada ao hábito de fumar. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), 90% dos casos de câncer bucal estão diretamente ligados ao consumo de tabaco e álcool, o que reforça a necessidade de exames bucais periódicos para detecção precoce de alterações potencialmente malignas.

Outro problema associado ao fumo é a estomatite nicotínica, inflamação do céu da boca decorrente da exposição constante ao calor. Ela se manifesta com o palato esbranquiçado, aparência rachada e presença de pontos vermelhos devido ao comprometimento dos ductos das glândulas salivares.

Soma-se a isso a perda progressiva dos sentidos do olfato e paladar, que, embora muitas vezes ignorada pelos fumantes, compromete a qualidade de vida. A boa notícia, conforme pontua a especialista, é que ao cessar o uso do tabaco, há significativa recuperação desses sentidos em curto prazo.

Assim, o Dia Mundial Sem Tabaco se torna uma oportunidade crucial não apenas para conscientizar sobre os efeitos do cigarro nos pulmões ou no coração, mas para trazer à tona um aspecto muitas vezes negligenciado: os danos silenciosos e progressivos que o cigarro causa à saúde bucal.

Os cirurgiões-dentistas desempenham papel fundamental nessa luta, não apenas orientando os pacientes, mas também sendo os primeiros a identificar alterações suspeitas que podem salvar vidas.

Da redação Ponto Notícias l Campinas/SP