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Juiz afastado é investigado por venda de sentenças e recebe R$ 750 mil da esposa

Ivan Lúcio Amarante, acusado de comercializar decisões judiciais, é alvo de PAD após repasses suspeitos para suposto “desenvolvimento espiritual” com pai de santo; CNJ vê indícios de lavagem de dinheiro

Por: Redação Fonte: Redação
04/06/2025 às 22h00
Juiz afastado é investigado por venda de sentenças e recebe R$ 750 mil da esposa
Juiz Ivan Lúcio Amarante é investigado por suspeita de envolvimento em esquema milionário de venda de sentenças judiciais em Mato Grosso

O juiz Ivan Lúcio Amarante, afastado do cargo no dia 29 de maio, está no centro de uma investigação que aponta possível envolvimento em um esquema de venda de sentenças na Comarca de Vila Rica, localizada a mais de 1.200 quilômetros da capital Cuiabá, no Mato Grosso. Um dos principais focos da apuração são os depósitos feitos em sua conta: segundo dados reunidos pela Corregedoria Nacional de Justiça (CNJ), a esposa do magistrado, Mara Patrícia Nunes Amarante, transferiu a ele R$ 750 mil em um intervalo de dez meses, por meio de 43 depósitos bancários realizados entre setembro de 2023 e julho de 2024.

A defesa do juiz afirmou que os recursos foram destinados ao “desenvolvimento espiritual e religioso” de Amarante, por meio de atendimentos com um pai de santo. No entanto, as justificativas não foram suficientes para conter a suspeita de envolvimento do magistrado em atividades ilícitas, sobretudo pela natureza fragmentada e recorrente das transações, que levantaram alertas típicos de estratégias de dissimulação financeira.

A partir dos indícios, o CNJ instaurou um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) contra o juiz, como parte da “Operação Sisamnes”, que apura a suposta venda de decisões judiciais. As investigações buscam esclarecer se os valores recebidos foram utilizados para lavar dinheiro de origem ilícita e se o magistrado de fato se beneficiava economicamente da manipulação de sentenças judiciais em troca de vantagens pessoais. O caso reacende o debate sobre corrupção no Judiciário e pode culminar em sanções severas, inclusive a cassação definitiva do cargo.

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A defesa do juiz Ivan Lúcio Amarante justificou os depósitos feitos por sua esposa, Mara Patrícia Nunes Amarante — empresária do setor de logística e transportes — como parte de um compromisso espiritual. De acordo com os advogados do magistrado, os repasses, que totalizam R$ 750 mil, foram destinados ao custeio de sessões espirituais com o pai de santo Fernando César Parada, dirigente do Terreiro Nossa Senhora do Rosário, localizado em São Paulo. Além disso, os gastos incluiriam atendimentos realizados por outros líderes religiosos vinculados à mesma linha espiritual.

Os advogados destacaram que o envolvimento do juiz com práticas de desenvolvimento espiritual era uma escolha pessoal, sem qualquer relação com irregularidades funcionais. No entanto, as alegações não afastaram as suspeitas da Corregedoria Nacional de Justiça, especialmente diante da quantia elevada e da forma parcelada das transferências, o que é incomum mesmo em serviços religiosos de alto padrão. A alegação de motivação espiritual passa, agora, a ser avaliada no contexto do Processo Administrativo Disciplinar (PAD), que busca apurar se os recursos foram utilizados como disfarce para um esquema de lavagem de dinheiro associado à venda de decisões judiciais.

A Corregedoria Nacional de Justiça (CNJ) contestou a justificativa apresentada pela defesa de Ivan Lúcio Amarante, destacando a regularidade e os altos valores dos depósitos como elementos atípicos e suspeitos. Segundo o órgão, os repasses — realizados em quantias elevadas e com valores repetidos — fogem ao padrão esperado para gastos pessoais, mesmo aqueles ligados a atividades religiosas. Apenas em outubro de 2023, a investigação identificou sete depósitos que, somados, atingiram R$ 140 mil, o que reforçou a tese de que os pagamentos poderiam ter sido usados para ocultar práticas ilícitas.

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Diante dessas evidências, os conselheiros do CNJ votaram por unanimidade pela abertura de um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) contra o juiz, que continuará afastado do cargo por medida cautelar. A decisão marca mais uma etapa da “Operação Sisamnes”, que busca desarticular esquemas de comercialização de sentenças no Judiciário e investigar possíveis mecanismos de lavagem de dinheiro envolvendo integrantes do sistema judicial.

As investigações que resultaram no afastamento do juiz Ivan Lúcio Amarante tiveram origem em um crime de grande repercussão: o assassinato do advogado Roberto Zampieri, executado a tiros em frente ao seu escritório em Cuiabá, em 2023. A análise do conteúdo extraído do celular da vítima revelou indícios de práticas ilícitas no âmbito do Judiciário, como venda de sentenças e movimentações financeiras de origem duvidosa. Esses elementos foram cruciais para a deflagração da “Operação Sisamnes”, coordenada pela Polícia Federal.

Com autorização do Supremo Tribunal Federal (STF), a operação cumpriu três mandados de busca e apreensão no estado do Mato Grosso, tendo como um dos alvos o próprio juiz Amarante. Além do afastamento do cargo, a Justiça determinou o bloqueio de bens e valores do magistrado, totalizando aproximadamente R$ 30 milhões. O caso segue em apuração pelas autoridades, que agora analisam os desdobramentos do esquema e suas possíveis conexões com outros agentes públicos.

Da redação Ponto Notícias  l  Arielly Barth

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