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Brasil desmente “reserva de grafeno” na Bahia, mas avança rumo à liderança global no setor

Informação sobre megadescoberta em Amargosa (BA) não se confirma, mas país consolida posição estratégica com reservas de grafite e projetos pioneiros de produção de grafeno

Por: Redação Fonte: Redação
10/06/2025 às 12h00
Brasil desmente “reserva de grafeno” na Bahia, mas avança rumo à liderança global no setor
Minério de grafita: matéria-prima essencial para a produção de grafeno, setor no qual o Brasil desponta com reservas e projetos inovadores

A circulação de informações sobre uma suposta descoberta de uma das maiores reservas de grafeno no mundo, localizada em Amargosa (BA), gerou ampla repercussão e interesse público e empresarial. A notícia, atribuída a uma empresa sul-coreana, mobilizou expectativas em torno do potencial econômico e tecnológico desse material, conhecido por sua resistência extrema, leveza e capacidade de conduzir eletricidade, sendo considerado um insumo chave para diversas inovações industriais — de baterias e eletrônicos até biomedicina e materiais aeroespaciais.

No entanto, uma análise detalhada revela que essa alegação não se sustenta sob escrutínio técnico ou factual. O grafeno, ao contrário de minerais como ouro ou ferro, não é encontrado em estado natural em reservas geológicas. Trata-se de um nanomaterial manufaturado, geralmente obtido a partir da grafita, essa sim uma substância mineral extraída da natureza. Portanto, não é tecnicamente correto afirmar que exista uma “reserva de grafeno” — o que se descobre são jazidas de grafite, matéria-prima necessária para a fabricação do grafeno.

Além disso, a empresa sul-coreana citada na alegação — provavelmente uma referência confusa à Graphene Square, especializada em tecnologias e aplicações com grafeno, e não em mineração — não possui registros ou projetos documentados no município de Amargosa. A ausência de informações oficiais sobre qualquer operação desse tipo na região reforça a hipótese de que a história trata-se de uma desinformação ou erro de interpretação, possivelmente causado pelo entusiasmo em torno do potencial do material.

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Apesar da falta de veracidade nessa narrativa específica, o episódio chama atenção para um fato importante: o Brasil está de fato na vanguarda do grafite, com uma das maiores reservas do mundo, e já conta com projetos em curso voltados para a produção de grafeno. Esse contexto real, embora menos sensacionalista, representa um caminho sólido e promissor para que o país consolide sua presença global em cadeias de valor estratégicas e de alta tecnologia.

A recente circulação de informações sobre a suposta descoberta de uma das maiores reservas de grafeno do mundo no município de Amargosa, na Bahia, provocou grande repercussão e expectativas sobre o potencial do Brasil no cenário tecnológico global. Segundo a alegação, uma empresa sul-coreana teria identificado a reserva entre os anos de 2023 e 2024, o que colocaria o país em destaque no setor de materiais avançados. Contudo, uma análise detalhada e fundamentada revela inconsistências e desencontros de informações que põem em dúvida a veracidade da notícia.

Ao examinar os dados disponíveis, verifica-se que não há registros confiáveis que confirmem a existência de tal projeto de mineração em Amargosa. Tampouco existem documentos, relatórios técnicos ou anúncios oficiais que sustentem a alegação da empresa citada. A suposta responsável pela descoberta seria a “Graphene & Co.”, nome que não corresponde a nenhuma companhia registrada no setor mineral com operações na Bahia. A empresa sul-coreana mais próxima dessa nomenclatura e com atuação reconhecida em grafeno é a Graphene Square, cujo foco está em pesquisa e desenvolvimento tecnológico — e não em exploração mineral. Ela atua em aplicações industriais do grafeno, como em semicondutores e revestimentos, mas não realiza mineração.

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Além disso, há um equívoco conceitual importante na narrativa divulgada: o grafeno não é um recurso natural encontrado em estado bruto. Trata-se de um material sintético, extraído a partir do grafite por meio de técnicas industriais complexas. Portanto, o que se descobre na natureza são jazidas de grafite, não de grafeno. Essa confusão pode ter alimentado uma interpretação errônea ou, em casos mais graves, uma desinformação deliberada.

Mesmo que a alegação não se sustente, o Brasil — e particularmente a Bahia — possui, de fato, relevância crescente no setor de grafite, matéria-prima essencial para a produção de grafeno. Projetos em andamento e reservas identificadas estão sendo desenvolvidos com foco na cadeia produtiva de materiais estratégicos, e várias empresas já operam com perspectivas voltadas à exportação de grafite de alta pureza. A transformação desse grafite em grafeno depende de avanços tecnológicos e investimentos em inovação, áreas nas quais o país tem buscado expandir sua atuação.

A análise, portanto, ajuda a esclarecer o cenário real e resgata a importância de se basear em informações verificadas quando se trata de temas com potencial econômico e científico tão significativo.

Embora a alegada descoberta de uma mega reserva de grafeno em Amargosa, na Bahia, não tenha se confirmado, o Brasil segue com papel de destaque no cenário global de produção de grafite — a principal matéria-prima para a obtenção do grafeno. O país é detentor da segunda maior reserva de grafite natural do mundo e ocupa a terceira posição entre os maiores fornecedores internacionais. Esse recurso mineral é essencial para a produção de grafeno, um nanomaterial com propriedades extraordinárias, como alta resistência mecânica, leveza e condutividade térmica e elétrica, sendo considerado um material estratégico para aplicações nas indústrias eletrônica, médica, automotiva e energética.

Com base nesse cenário, o Brasil não apenas garante uma posição privilegiada como fornecedor global de grafite, mas também possui potencial para liderar a agregação de valor à cadeia produtiva, investindo em tecnologia para transformar esse insumo mineral em grafeno e produtos derivados. Essa perspectiva representa uma oportunidade importante de inserção nacional no mercado de materiais avançados, indo além da simples exportação de commodities.

A Bahia, especificamente, desponta como um polo relevante nesse contexto. O estado concentra investimentos robustos em dois projetos que reforçam sua posição como protagonista na produção de grafite brasileiro. O primeiro é o projeto da Graphcoa, localizado no município de Itagimirim, no sul da Bahia. A companhia, sob controle do fundo europeu Appian Capital, iniciou as operações de sua primeira planta de grafite em dezembro de 2024. A meta é atingir uma capacidade de produção de 5.500 toneladas por ano até agosto de 2025, com previsão de crescimento para 65.500 toneladas anuais até 2028 — uma expansão estratégica voltada ao suprimento da crescente demanda mundial.

Outro destaque é o Projeto Santa Cruz, conduzido pela empresa South Star Battery Metals, também no sul baiano. Essa iniciativa alcançou um marco histórico ao inaugurar, em setembro de 2024, a primeira nova produção de grafite nas Américas em quase três décadas. A Fase 1 da mina foi concluída e, em maio de 2025, foi realizado o primeiro envio comercial. O projeto simboliza a reativação da produção continental, apontando a Bahia como centro de excelência na extração e beneficiamento de grafite de alta pureza.

Esses empreendimentos reforçam o papel estratégico da Bahia e do Brasil como protagonistas no cenário mineral global e abrem caminho para investimentos na cadeia de valor do grafeno, consolidando o país como uma referência no mercado de alta tecnologia.

A trajetória do Brasil no setor de grafeno não se limita apenas à exploração de suas vastas reservas de grafite. O país tem avançado de forma significativa na produção do próprio grafeno — nanomaterial derivado do grafite, reconhecido por sua leveza, resistência e versatilidade tecnológica. Esse avanço combina o potencial mineral brasileiro com investimentos crescentes em inovação e desenvolvimento científico, consolidando uma cadeia produtiva nacional em torno do grafeno.

Um exemplo concreto dessa evolução é a UCSGRAPHENE, localizada em Caxias do Sul (RS). Inaugurada em 2021, esta é a primeira e maior planta industrial da América do Sul dedicada à produção de grafeno em escala comercial. Com uma capacidade instalada de até 5 toneladas anuais, a unidade opera como um braço da Universidade de Caxias do Sul (UCS), em parceria com a Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial). O projeto representa um elo essencial entre o meio acadêmico e o setor produtivo, permitindo não só o fornecimento do material como também o desenvolvimento de soluções aplicadas nas áreas da saúde, construção civil, eletrônica, transportes e energia.

Outro pilar do ecossistema nacional de grafeno é o Projeto MGrafeno, conduzido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Desde 2016, a iniciativa se dedica à pesquisa sobre a produção do nanomaterial a partir da grafita natural, investigando desde a obtenção em laboratório até possíveis aplicações industriais. O projeto tem contribuído para a formação de mão de obra qualificada, geração de patentes e construção de pontes entre ciência e inovação tecnológica, sobretudo no estado de Minas Gerais, um dos maiores produtores de grafite do país.

A partir dessa base sólida, emerge um novo olhar para o futuro do Brasil no mercado global de grafeno. A alegação sobre uma suposta descoberta de uma gigantesca reserva do material em Amargosa (BA), apesar de ter despertado curiosidade, não encontra respaldo nos dados verificados. Tecnicamente, é incorreto falar em "reservas de grafeno", já que este é um material manufaturado — a matéria-prima natural passível de extração é o grafite. A história parece ter se baseado em desinformações sobre o papel de uma empresa sul-coreana e sobre a natureza do material.

Contudo, a realidade vai além da ficção. O Brasil detém a segunda maior reserva de grafite do mundo e avança em frentes paralelas: a mineração sustentável e a inovação tecnológica. O próximo passo é articular essas capacidades — combinando produção mineral com centros de desenvolvimento científico e polos industriais — para transformar o país em líder.

Da redação Ponto Notícias l Campinas SP

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