Uma declaração do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, que buscou relativizar críticas feitas por ele próprio, no passado, ao sistema de urnas eletrônicas do Brasil. Durante uma palestra no Tribunal de Contas de Minas Gerais, em Belo Horizonte, Dino afirmou que suas declarações críticas ocorreram em um contexto diferente, quando ainda não havia a implementação de tecnologias como a biometria e mecanismos de auditabilidade hoje existentes no processo eleitoral brasileiro.
A menção às antigas críticas de Dino foi trazida de volta ao debate público por Jair Bolsonaro, durante seu depoimento no STF, no inquérito que investiga uma possível tentativa de golpe. O ex-presidente utilizou as antigas declarações de Dino para argumentar que a desconfiança sobre as urnas eletrônicas não se restringia a ele.
Na defesa de sua mudança de postura, Dino enfatizou que os avanços tecnológicos modificaram significativamente o sistema eleitoral desde aquele período, afastando a validade de sua posição anterior. Segundo ele, tratava-se de uma visão de mais de 15 anos atrás, sob um cenário técnico completamente diferente do atual.
O ministro Flávio Dino, ao ser questionado sobre a citação feita por Jair Bolsonaro durante depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), evitou aprofundar o assunto, justificando que não pode se pronunciar sobre processos em andamento na Corte. A menção de Bolsonaro relacionava-se às críticas feitas por Dino, no passado, ao sistema de urnas eletrônicas — usadas pelo ex-presidente como argumento de que a desconfiança em relação à votação eletrônica era compartilhada por outras figuras públicas.
Em sua resposta, Dino ressaltou o princípio da ampla defesa no Judiciário, afirmando que todo acusado tem o direito de se manifestar livremente durante o processo legal. Ele declarou que esse direito é garantido e não sofre restrições, reforçando que a liberdade de defesa deve ser respeitada no curso das investigações e julgamentos.
O episódio evidencia como figuras públicas podem acabar se confrontando com declarações passadas quando assumem novos papéis institucionais. Ao afirmar que suas críticas às urnas pertencem a um “outro momento” da vida, Flávio Dino tenta dissociar o conteúdo do que foi dito do contexto atual, alegando avanços tecnológicos no sistema eleitoral como justificativa para sua mudança de opinião. No entanto, ao não reconhecer diretamente a gravidade ou implicações de sua fala anterior, o ministro abre espaço para interpretações de que há contradição entre sua postura de hoje — como defensor da legitimidade das eleições — e aquela adotada no passado, como crítico do mesmo sistema.
Cair em contradição nesse tipo de situação geralmente ocorre quando versões passadas e presentes de um discurso se chocam, especialmente em temas sensíveis como o processo eleitoral. Tentar justificar essas divergências sem um reconhecimento mais claro da mudança de posição pode soar como evasivo ou incoerente, principalmente quando há registros públicos das declarações anteriores. No caso de Dino, sua tentativa de contextualizar críticas antigas, sem abordar diretamente o conteúdo e impacto delas, reforça a percepção de que há versões diferentes de si mesmo, moldadas conforme o cargo ocupado ou o cenário político. Isso alimenta o debate sobre a coerência de autoridades e a responsabilidade que têm ao se manifestarem publicamente.
Da redação Ponto Notícias l Brasília