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Protesto em Marabá denuncia explosão do Pedral do Lourenção e ameaça ao Rio Tocantins

Manifestação popular reúne movimentos sociais, artistas, ribeirinhos e ambientalistas contra a Hidrovia Araguaia-Tocantins, autorizada pelo Ibama e contestada por comunidades e instituições

Por: Redação Fonte: Redação
24/06/2025 às 20h00
Protesto em Marabá denuncia explosão do Pedral do Lourenção e ameaça ao Rio Tocantins
Manifestantes ocupam o centro de Marabá no Dia Mundial do Meio Ambiente com faixas e cartazes em defesa do Rio Tocantins

No Dia Mundial do Meio Ambiente, o centro de Marabá (PA) foi palco de uma mobilização popular em defesa do Rio Tocantins. O ato, batizado de “Contra a destruição do Pedral do Lourenção!”, reuniu dezenas de participantes, entre representantes de movimentos sociais, sindicatos, comunidades tradicionais, pesquisadores, estudantes e artistas, todos unidos pelo mesmo propósito: protestar contra o projeto da Hidrovia Araguaia-Tocantins.

A manifestação denunciou com veemência a liberação do empreendimento pelo Ibama, apontando que a autorização favorece interesses do agronegócio e da mineração em detrimento da preservação ambiental e dos direitos das populações locais. Segundo os manifestantes, o projeto avança sobre o rio mesmo diante de diversas irregularidades, ameaçando o ecossistema do Pedral do Lourenção e os modos de vida de comunidades que dependem diretamente da integridade do Tocantins.

Durante o protesto realizado em Marabá, a principal denúncia dos manifestantes recaiu sobre a autorização da explosão do Pedral do Lourenção, medida aprovada em maio deste ano e atualmente questionada pelo Ministério Público Federal (MPF). A crítica central é que o projeto ignora completamente a existência e os direitos das comunidades que vivem às margens do Rio Tocantins — ribeirinhos, pescadores artesanais e camponeses que dependem diretamente do rio para sua subsistência. Segundo os organizadores do ato, a proposta também viola legislações nacionais e internacionais, como a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que obriga a consulta prévia, livre e informada a povos tradicionais, o que não foi respeitado.

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Os participantes alertaram para os impactos ambientais e sociais da chamada derrocagem, que consiste na explosão de grandes blocos rochosos no leito do rio, seguida da dragagem para aprofundamento do canal. Essas intervenções provocam danos severos e irreversíveis ao ecossistema aquático e às populações locais. Atualmente, sete hidrelétricas já operam na região, todas com histórico de destruição de pedrais semelhantes. Restam apenas dois blocos preservados — um deles é o Pedral do Lourenção, agora ameaçado pelo novo projeto. “Esse projeto é um ataque à vida das comunidades do rio. Ele ignora a presença das pessoas que vivem ali há gerações e tem como único objetivo viabilizar embarcações de grande porte para escoar commodities. É um projeto ilegal”, afirmaram os manifestantes.

A autorização ambiental concedida pelo Ibama ao projeto da Hidrovia Araguaia-Tocantins foi outro ponto duramente criticado pelos participantes do ato, especialmente pela fragilidade técnica do Estudo de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) que embasou a decisão. Especialistas e movimentos sociais apontam graves omissões, como a ausência de um levantamento preciso da fauna subaquática da região. De acordo com os manifestantes, o Pedral do Lourenção é habitat de espécies endêmicas de peixes e serve como área de desova da tartaruga-da-amazônia, além de ter papel essencial na manutenção da pesca artesanal, que não foi devidamente considerada nos estudos.

As críticas destacam que a intervenção ameaça romper o ciclo reprodutivo dos peixes, contaminar as águas e comprometer o sustento das comunidades locais, que sequer foram oficialmente reconhecidas nos documentos do projeto. “O que se vê é o avanço de um projeto feito para expulsar famílias ribeirinhas e camponesas e entregar o rio ao escoamento de commodities para exportação. Isso é inaceitável”, declararam os manifestantes, ressaltando ainda que há processos judiciais em andamento contra o projeto, mas que não têm impedido seu avanço.

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A dimensão cultural do protesto também se fez presente. O coletivo artístico Taca Tinta, conhecido em Marabá por suas intervenções em espaços públicos, participou da manifestação com ações visuais de impacto. Utilizando a técnica do lambe-lambe, os artistas colaram cartazes nas ruas e muros da cidade com frases como “Projeto de Morte” e “Desenvolvimento ou destruição?”, transformando os espaços urbanos em verdadeiras galerias de denúncia social e ambiental. A presença da arte reforçou o caráter simbólico da resistência e ajudou a amplificar a mensagem do protesto.

O protesto em defesa do Rio Tocantins também deu espaço para a expressão artística como forma de resistência. “A arte também é trincheira”, declarou uma das integrantes do coletivo Taca Tinta, que colou cartazes nos muros da cidade denunciando o projeto da hidrovia com palavras de ordem incisivas. Para os artistas e ativistas, o silêncio do poder público precisa ser rompido com barulho popular, pois “se não fizermos barulho agora, vão destruir tudo em silêncio, com pareceres, decretos e explosivos”. A mensagem foi clara: o rio pertence ao povo, não ao agronegócio nem à mineração.

O ato denunciou ainda a concessão da Licença de Instalação feita pelo Ibama em 26 de maio de 2025, sob a presidência de Rodrigo Agostinho, que autorizou o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) a iniciar o processo de derrocamento e dragagem do trecho entre a Ilha do Bogéa e Santa Teresinha do Tauari, no Rio Tocantins. O projeto da Hidrovia Araguaia-Tocantins, iniciado oficialmente no governo FHC em 1995, atravessou diferentes administrações, tendo sua licença prévia aprovada ainda em 2022, no governo Bolsonaro, e mantida no governo de Luiz Inácio, que agora o classifica como “estratégico para a navegabilidade do rio”.

A contradição foi duramente criticada por movimentos sociais e organizações ambientais, que apontaram a incoerência entre o discurso oficial de defesa ambiental e a autorização de um projeto com impactos profundos e irreversíveis sobre a vida de comunidades ribeirinhas. O investimento bilionário, superior a R$ 500 milhões, visa exclusivamente beneficiar os interesses logísticos do agronegócio e da mineração, promovendo o escoamento de soja, gado e minério. Nenhuma das comunidades locais será favorecida pela obra — ao contrário, correm risco de perder seu sustento, sua água e seus territórios.

“É o mesmo modelo que causou Mariana e Brumadinho, repetido agora em escala fluvial e invisível”, afirmam organizações como o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) e o Instituto Socioambiental, em nota conjunta. A denúncia une ciência e justiça social ao clamor das populações tradicionais, que exigem que seus direitos sejam respeitados diante do avanço de grandes projetos que priorizam lucros à custa da destruição ambiental e humana.

Diante da autorização para a explosão do Pedral do Lourenção e da conivência do Estado com os interesses de latifundiários e empresas transnacionais de mineração, cresce entre movimentos sociais, comunidades tradicionais e setores populares a convicção de que apenas a mobilização coletiva poderá frear o avanço de mais um crime socioambiental anunciado. O sentimento nas ruas é de resistência urgente, com protestos sendo organizados como forma de denúncia e enfrentamento direto à destruição sistemática do Rio Tocantins.

Nesse contexto, veículos de imprensa alternativa como o jornal A Nova Democracia reforçam sua importância como trincheiras de luta ideológica e de informação crítica. Com mais de duas décadas de existência, o periódico tem sustentado sua atuação graças ao apoio de leitores engajados — entre operários, camponeses, estudantes e setores da intelectualidade progressista. Fiel à sua proposta editorial de confronto à mídia tradicional e ao poder econômico, A Nova Democracia se mantém como espaço de denúncia, análise e articulação de pautas que resistem à hegemonia dos interesses dominantes e do imperialismo.

Da redação Ponto VNotícias  l  Belém PA

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