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Brasil sediará COP-30 em Belém: desafios e oportunidades para o futuro sustentável da Amazônia

Evento internacional traz esperança para o debate científico e estratégico sobre desenvolvimento, inclusão social e inovação no setor agroalimentar

Por: Redação Fonte: Redação
06/07/2025 às 16h30
Brasil sediará COP-30 em Belém: desafios e oportunidades para o futuro sustentável da Amazônia
Vista aérea de Belém do Pará, cidade escolhida para sediar a COP-30, que reunirá lideranças globais para discutir a sustentabilidade na Amazônia

Em novembro de 2023, veio de Dubai uma notícia que despertou grandes expectativas em diversos setores da sociedade brasileira: o Brasil foi escolhido para sediar a 30ª Conferência das Partes (COP-30), que acontecerá na cidade de Belém, no Pará. Esse reconhecimento internacional coloca o país em posição de destaque para apresentar suas potencialidades e contribuir de forma decisiva no debate global sobre mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável.

No entanto, a realização do evento no Brasil também revela a complexidade dos desafios que o país enfrenta. Nas edições anteriores da COP, os debates foram marcados por uma forte polarização entre narrativas conflitantes — de um lado, aqueles que defendem a conservação e a manutenção do status quo; do outro, grupos que promovem o desmatamento e a flexibilização das metas ambientais, colocando em risco avanços conquistados. Diante desse cenário, surge a dúvida sobre se a COP-30 permitirá um ambiente de diálogo pautado pela razão, pela ciência e por um planejamento estratégico efetivo, capaz de promover soluções concretas e duradouras para os problemas ambientais que o Brasil e o mundo enfrentam.

O Brasil conta com uma base sólida de ciência, tecnologia e um conjunto de atores engajados nos negócios sustentáveis, posicionando-se como potencial líder nas transformações necessárias para um sistema agroalimentar global mais sustentável. Enquanto a prática do desmatamento favorece apenas um grupo restrito, o país dispõe de alternativas inovadoras que conciliam produtividade com preservação ambiental.

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Uma dessas alternativas é a Agricultura Tropical Regenerativa, uma abordagem revolucionária e ainda pouco conhecida que promove a produção de alimentos mais saudáveis e nutritivos, utilizando métodos sustentáveis e resistentes às mudanças climáticas. Essa prática contribui para o sequestro de carbono no solo — reconhecido como elemento vital para a vida — e reduz significativamente o uso de fertilizantes e defensivos químicos. A aplicação desses conhecimentos já disponíveis não apenas possibilita dobrar a produção alimentar sem a necessidade de desmatamento, mas também gera empregos e renda dignos, alinhando-se aos valores e expectativas dos jovens urbanos de grandes metrópoles como São Paulo, Tóquio e Paris.

A polarização intensa no debate ambiental tem sido um grande obstáculo para o Brasil avançar em soluções efetivas e integradas. Esse clima de conflito impede a escuta mútua, dificulta a organização das cadeias produtivas e elimina oportunidades para demonstrar que é possível conciliar desenvolvimento econômico com impacto ambiental reduzido. A chamada “guerra de narrativas” cria um ambiente confuso e desarticulado, onde prevalece a lógica do “cada um por si”, obscurecendo as virtudes e potencialidades do país.

No entanto, essa disputa não será capaz de impedir que a imprensa internacional esteja presente em Belém para registrar os resultados de décadas de impasses políticos. Apesar da visibilidade do evento, os desafios concretos permanecem evidentes. No Pará, 91% dos esgotos são despejados nos rios amazônicos sem tratamento adequado, evidenciando graves problemas ambientais. Além disso, cadeias produtivas essenciais para o país, como a da pupunha e da borracha, estão concentradas em outros estados — Santa Catarina e Bahia/São Paulo, respectivamente — demonstrando uma desconexão regional.

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Outro exemplo é o mercado do açaí, cuja demanda cresce a um ritmo de 15% ao ano, enquanto a oferta avança apenas 5%. Essa discrepância resulta em maior pressão sobre a floresta amazônica e condições de trabalho precárias para os trabalhadores envolvidos, revelando a necessidade urgente de reorganização e modernização desses sistemas produtivos para garantir sustentabilidade social e ambiental.

Na região amazônica, muitas vezes a ciência, a dimensão humana e a viabilidade econômica são negligenciadas nos debates e políticas públicas. Para a população, os dados concretos revelam uma realidade preocupante: segundo o IBGE, a Região Norte lidera os índices de miséria e fome no país, além de ocupar os primeiros lugares no ranking de favelização urbana. Belém é a cidade com maior percentual de população vivendo em favelas (57,1%), seguida por Manaus (55,8%) e Macapá (26,9%), evidenciando graves problemas sociais e urbanos.

No relatório “Nosso Futuro Comum”, de 1987, Gro Harlem Brundtland, que concebeu o conceito de desenvolvimento sustentável, já destacava um princípio fundamental: “sem viabilidade econômica, não haverá o social, ou o ambiental”. Essa reflexão levanta uma questão central para a Amazônia — uma região com cerca de 28 milhões de habitantes: como esperar o compromisso efetivo com a proteção da natureza se não houver condições econômicas que sustentem o bem-estar social e o desenvolvimento humano? Essa perspectiva reforça a necessidade de políticas que integrem desenvolvimento econômico sustentável com a preservação ambiental e a inclusão social na região.

Alysson Paolinelli, fundador do Fórum do Futuro, apresentou uma proposta concreta para enfrentar os desafios sociais e ambientais do mundo tropical, que será debatida em um workshop com o Banco Mundial em Washington, no dia 25 de junho. A estratégia central consiste em promover a inclusão social, econômica e digital de dezenas de milhões de produtores rurais atualmente excluídos do acesso ao conhecimento e às tecnologias necessárias para o desenvolvimento sustentável.

Com o apoio da EMBRAPA e da Universidade Federal de Lavras (UFLA), esse plano foi atualizado por Roberto Rodrigues, presidente do Conselho Consultivo do Fórum, que incorporou soluções capazes de responder à insegurança alimentar e energética, às mudanças climáticas e à persistente desigualdade social. Essa abordagem integrada visa promover transformações profundas e duradouras no setor agroalimentar global.

No contexto atual, comunicar essas propostas é fundamental, mas conquistar a atenção e o engajamento dos jovens — que representam cerca de 50% do mercado brasileiro e têm menos de 35 anos — requer apresentar soluções práticas, realistas e confiáveis. Essas iniciativas devem estar alinhadas ao objetivo de impulsionar um Terceiro Grande Ciclo de Inovações no sistema agroalimentar, capaz de transformar o campo e a cidade com tecnologia, sustentabilidade e inclusão social.

Existem diversos modelos de eficiência no agronegócio, e a Holanda é um exemplo emblemático. Apesar de ser 176 vezes menor que o Brasil em território, o país é o segundo maior exportador agroindustrial do mundo. Um dos segredos do sucesso holandês está na forte integração entre a renomada Universidade de Wageningen — considerada a melhor instituição agropecuária do planeta —, o governo e os produtores rurais. Essa colaboração permite que produtos como hortaliças cheguem a Nova Iorque em apenas 24 horas, enquanto o Brasil ainda enfrenta desafios estruturais, como a dificuldade de escoar sua produção em ferrovias insuficientes ou estradas em más condições.

Independentemente da magnitude das crises enfrentadas, a história mostra que o compromisso com a ciência e o diálogo democrático abre caminhos para soluções inovadoras. Esses valores pavimentam a rota para um futuro sustentável e equilibrado, alinhado ao conceito do Nosso Futuro Comum, onde desenvolvimento econômico e preservação ambiental caminham juntos.

Da redação P&V Notícias  l  Com informação Texto Fernando Barros

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