Na manhã de uma quinta-feira, a Polícia Civil realizou uma operação coordenada pela 4ª Delegacia de Investigação do Narcotráfico, que revelou uma sofisticada rede criminosa com atuação concentrada na Região Metropolitana de Porto Alegre. O grupo, segundo a investigação, era especializado na comercialização de drogas sintéticas e em práticas de lavagem de dinheiro. As atividades ilícitas estavam centradas em Viamão, onde empresas do ramo agropecuário eram utilizadas como fachada para encobrir o funcionamento do esquema criminoso.
Durante a operação realizada pela Polícia Civil, foram executados 58 mandados judiciais que incluíram ordens de busca, prisões preventivas, bloqueios de contas bancárias e apreensões de veículos. Nove pessoas foram detidas, e os agentes encontraram 250 frascos de cetamina, uma substância controlada destinada originalmente ao uso veterinário, mas que estava sendo desviada para a produção de entorpecentes. Também foram recolhidos armas, dinheiro, munições, veículos e joias durante a ação.
As investigações revelaram um esquema de alto nível de sofisticação, no qual empresas do setor agropecuário eram utilizadas como fachada para atividades criminosas. A apuração começou após o recebimento de informações que apontavam o uso de uma dessas empresas para distribuir ilegalmente a cetamina. Análises de movimentações financeiras e escutas autorizadas permitiram detectar a aquisição de grandes lotes da substância junto a fornecedores regulares, em volumes muito superiores à necessidade legítima, o que evidenciava o desvio para fins ilícitos relacionados ao tráfico de drogas sintéticas.
A organização criminosa também mantinha um esquema estruturado de lavagem de dinheiro por meio de diversas empresas de fachada, abrangendo setores variados como imóveis, comércio de ouro, estética e até estabelecimentos voltados para cuidados com animais, como pet shops. Esses negócios eram utilizados para movimentar grandes quantias de dinheiro, adquirir bens de alto valor e mascarar a origem dos recursos provenientes do tráfico. Dentro desse conjunto, as empresas agropecuárias desempenhavam um papel estratégico, permitindo a circulação de valores de forma encoberta e contribuindo para dar aparência de legalidade às atividades criminosas.
A investigação ainda identificou o uso de técnicas clássicas de lavagem de dinheiro, entre elas a movimentação de recursos por meio de contas bancárias de terceiros, conhecidas como “contas de passagem”. Essas contas pertenciam a pessoas com baixo poder aquisitivo e eram utilizadas para ocultar a verdadeira origem dos valores ilícitos. As transações, realizadas de forma fracionada e por diversos integrantes do grupo, ultrapassaram R$ 500 mil em um curto intervalo de tempo. Esses valores eram posteriormente direcionados às empresas de fachada, incluindo as do setor agropecuário, como parte da engrenagem financeira da organização criminosa.
Segundo a delegada Ana Flávia Leite, a organização criminosa era estruturada em setores bem definidos, com funções distribuídas entre operadores financeiros, fornecedores, transportadores, entregadores e intermediários comerciais. No núcleo de fornecimento, chamava atenção a participação de distribuidoras autorizadas que vendiam grandes quantidades de cetamina, frequentemente em volumes superiores aos permitidos ou necessários para fins legais, o que reforçava a evidência de desvio intencional da substância para o tráfico.
A apuração também revelou o envolvimento direto de pessoas próximas aos principais líderes do grupo. Entre essas, havia mulheres que atuavam na gestão de contas bancárias, bens imóveis e veículos, apesar de não apresentarem fontes de renda lícitas que justificassem o patrimônio sob sua responsabilidade. Essas envolvidas exerciam papéis relevantes na manutenção e no encobrimento das operações financeiras da organização.
Da redação P&V Notícias