A bacia hidrográfica do rio São Francisco ocupa cerca de 8% do território brasileiro e desempenha um papel fundamental para o abastecimento de água, geração de energia e conservação da biodiversidade no país. Com uma extensão de mais de 639 mil km², essa bacia atravessa seis estados, partindo de suas nascentes em Minas Gerais até desaguar no Oceano Atlântico, na divisa entre Alagoas e Sergipe.
O rio São Francisco percorre 2.863 km, sendo vital para o desenvolvimento econômico e ambiental da região. Ele abastece diversas cidades, sustenta atividades industriais, produz energia hidrelétrica e preserva a biodiversidade de quatro biomas distintos, o que reforça sua importância estratégica para o Brasil. No entanto, a bacia enfrenta sérios desafios socioambientais que ameaçam sua sustentabilidade e o equilíbrio dos ecossistemas que dela dependem.
Apesar de sua relevância estratégica, a bacia do rio São Francisco enfrenta desafios significativos que comprometem sua sustentabilidade. Desde 2013, a região tem sofrido com estiagens prolongadas e redução na vazão dos rios, afetando diretamente os níveis dos reservatórios e o abastecimento de milhões de pessoas que dependem desse recurso.
Além das dificuldades climáticas, questões socioeconômicas, como a desigualdade e a poluição, agravam o quadro, dificultando a gestão e preservação da bacia.
O rio São Francisco corta seis estados brasileiros — Minas Gerais, Goiás, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe — além do Distrito Federal, abrangendo mais de 500 municípios. Para facilitar o manejo dos recursos hídricos, a bacia é dividida em quatro grandes regiões:
Alto São Francisco: ocupa cerca de 40% da bacia, principalmente em Minas Gerais;
Médio São Francisco: localizado integralmente na Bahia, representando 39% da área;
Submédio São Francisco: situado entre Pernambuco e Bahia;
Baixo São Francisco: a menor extensão, cerca de 5%, entre Alagoas, Sergipe, Pernambuco e Bahia.
Essa divisão regional auxilia no planejamento e na administração eficiente dos recursos hídricos essenciais para o equilíbrio ambiental e o desenvolvimento socioeconômico da região.
A bacia hidrográfica do rio São Francisco destaca-se pela diversidade ambiental, abrigando quatro importantes biomas ao longo de sua extensão. Essa variedade confere à região uma riqueza ecológica significativa, tanto em termos de fauna quanto de flora.
No Cerrado, que ocupa quase metade da área da bacia, predominam as regiões de Minas Gerais e Bahia, caracterizadas por sua vegetação típica de savana. Já a Caatinga domina o Nordeste baiano e as áreas de clima mais árido, apresentando adaptações únicas às condições secas da região.
Fragmentos da Mata Atlântica ainda podem ser encontrados no Alto São Francisco, embora estejam bastante degradados devido à exploração e ao desmatamento. Na foz do rio, os ecossistemas estuarinos representam uma riqueza ecológica singular, com espécies adaptadas à transição entre ambientes marinhos e fluviais.
Essa diversidade biológica demanda cuidados específicos para a conservação dos ecossistemas, especialmente diante dos impactos das mudanças climáticas e da crescente pressão das atividades humanas na região.
Mais da metade da bacia hidrográfica do rio São Francisco está localizada na região do Semiárido brasileiro, onde a escassez de chuvas e a elevada evaporação tornam a gestão dos recursos hídricos um desafio constante. A precipitação anual média na bacia é de 1.036 mm, variando significativamente entre as áreas: chega a 1.400 mm nas nascentes e pode cair para apenas 350 mm na região entre Sento Sé e Paulo Afonso, na Bahia.
O período mais chuvoso ocorre entre novembro e janeiro, enquanto o trimestre de junho a agosto é marcado pela maior seca. A evapotranspiração média anual é de 896 mm, podendo atingir 1.400 mm nas áreas mais quentes, o que contribui para a rápida perda de água da superfície.
Essa irregularidade climática influencia diretamente os múltiplos usos da água no rio São Francisco, que vão do abastecimento doméstico à geração de energia elétrica. Para controlar o fluxo das águas e garantir a produção energética, grandes reservatórios e usinas hidrelétricas foram construídos ao longo do rio. Entre os principais estão as barragens de Três Marias, em Minas Gerais; Sobradinho, Itaparica e Paulo Afonso, na Bahia; e Xingó, na divisa entre Alagoas e Sergipe.
Nordeste, especialmente durante períodos de estiagem, e as grandes barragens e reservatórios instalados ao longo do rio também contribuem para a navegabilidade em trechos que totalizam cerca de 1.670 km, facilitando o transporte e a economia regional.
Essa região abriga mais de 15 milhões de pessoas, apresentando realidades socioeconômicas muito diversas. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) varia significativamente, desde 0,823 no Alto São Francisco, uma região mais desenvolvida, até 0,538 em áreas mais carentes. O Produto Interno Bruto (PIB) per capita segue essa linha de desigualdade, sendo de R$ 5.239 em Minas Gerais e caindo para R$ 2.275 em Alagoas. As taxas de mortalidade infantil também revelam disparidades gritantes, variando de 25,66% em Minas Gerais a 64,38% em Alagoas.
Enquanto o Alto São Francisco apresenta um forte desenvolvimento industrial e urbano, a região do Baixo São Francisco ainda depende majoritariamente da agropecuária tradicional, embora tenha observado crescimento em setores como turismo, aquicultura e lazer.
Mais de 70% da água retirada na bacia é destinada à agricultura, principalmente para irrigação em projetos públicos e privados, que abrangem cerca de 336 mil hectares, concentrados nas regiões do Médio e Submédio São Francisco.
Além da pressão agrícola, a qualidade da água também sofre com o despejo de resíduos urbanos e industriais, especialmente na Região Metropolitana de Belo Horizonte, uma das áreas mais afetadas pela poluição, devido ao elevado índice de carga inorgânica decorrente da mineração.
A bacia hidrográfica do rio São Francisco, fundamental para o desenvolvimento regional e nacional, enfrenta atualmente diversos desafios críticos. Entre eles, estão a necessidade de uma gestão eficiente dos recursos hídricos diante de secas prolongadas que afetam o abastecimento e a sustentabilidade da região. Além disso, há a urgente demanda por reduzir as desigualdades sociais que marcam as diferentes áreas da bacia, promovendo mais justiça e inclusão.
Outro desafio significativo é o combate à poluição, tanto de origem industrial quanto doméstica, que compromete a qualidade da água e a saúde dos ecossistemas locais. Paralelamente, é vital investir na preservação dos biomas que cortam a bacia — Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica e ecossistemas estuarinos — assim como na recuperação das áreas degradadas para garantir a manutenção da biodiversidade.
A bacia do São Francisco é, assim, um símbolo da riqueza natural do Brasil e da necessidade de um compromisso coletivo para garantir uma gestão sustentável, justa e integrada. Para assegurar seu futuro, é fundamental a união de esforços entre governos, comunidades e setores produtivos, visando um desenvolvimento que respeite o meio ambiente e promova o bem-estar social.
Da redação P&V Notícias l CBH (Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco)