Um estudo recente realizado no Cerrado sul-mato-grossense trouxe à tona descobertas inéditas sobre a cauda do tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla). A pesquisa, conduzida pela bióloga Alessandra Bertassoni, do Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS), revela que a cauda deste animal não é apenas um adorno visual, mas uma estrutura multifuncional crucial para sua sobrevivência.
Publicado na conceituada Journal of Ethology, o trabalho documentou 11 comportamentos distintos ligados ao uso da cauda, com muitos deles sendo descritos pela primeira vez. Para isso, a equipe realizou um total de 266 horas de observação de campo entre 2021 e 2023, ampliando o conhecimento sobre esse ícone da fauna do Cerrado.
O que parecia ser apenas um adorno visual para o tamanduá-bandeira revelou-se uma verdadeira ferramenta multifuncional. A cauda exuberante, que deu nome popular ao animal, desempenha papéis fundamentais que vão muito além da aparência.
O estudo destaca que essa estrutura é usada em funções mecânicas, como equilíbrio e proteção; comportamentais, para comunicação e sinalização; fisiológicas, auxiliando em aspectos como termorregulação; e sociais, fortalecendo laços entre os indivíduos da espécie. Essa descoberta amplia a compreensão sobre a complexidade da vida selvagem no Cerrado e a importância da conservação dessas espécies emblemáticas.
O tamanduá-bandeira utiliza sua cauda de maneiras surpreendentes e essenciais para sua sobrevivência, conforme explica a bióloga Alessandra Bertassoni. Segundo ela, a cauda atua em múltiplos comportamentos como equilíbrio, regulação térmica, proteção e comunicação materna.
Entre as funções descobertas, destacam-se: a cauda que serve como um “edredom” para conservar calor durante o sono; um “ventilador natural” nos dias quentes; e uma “sombrinha viva” usada pelas mães para proteger os filhotes do sol. Além disso, a cauda funciona como um “berço camuflado” para esconder e aquecer os filhotes, um sinal de “não me incomode” para controlar o comportamento dos filhotes e como um contrapeso fundamental para a postura e caminhada do animal.
O aspecto mais impressionante é o uso da cauda como meio de comunicação entre mãe e filhote, que responde por meio de gestos sutis ao toque do filhote, indicando quando ele pode se aproximar ou deve se manter afastado.
A cauda do tamanduá-bandeira, além de ser notável pela sua imponência, agora é reconhecida como uma peça fundamental na ecologia comportamental da espécie, conforme revela o estudo pioneiro. Pela primeira vez, cientistas documentaram o crescimento detalhado da cauda dos filhotes desde os primeiros dias até a maturidade, fornecendo informações inéditas para a compreensão biológica do animal.
Considerado vulnerável pela IUCN, o tamanduá-bandeira enfrenta ameaças severas como atropelamentos, destruição do habitat e impactos das mudanças climáticas. Para os pesquisadores, compreender a importância da cauda é crucial para a conservação da espécie. Lesões nessa estrutura comprometem a capacidade da mãe de transportar os filhotes e a regulação da temperatura corporal, fatores decisivos para a sobrevivência do animal. Esses dados auxiliam na elaboração de estratégias mais eficazes para a reabilitação e soltura de tamanduás feridos, aumentando suas chances de sobrevivência na natureza.
Da redação P&V Notícias l Bertassoni et al_2025- Tail behavior giant anteater.pdf